Resenha Filme Edificio Master

ANÁLISE DO FILME

O filme mostra, através da visão da equipe de filmagem que alugou um apartamento no Edifício Master, o cotidiano de vários de seus moradores através de entrevistas registradas durante uma semana. Através de seus relatos, os moradores contam sua história de vida, seu cotidiano e demonstram suas visões de vida.

No decorrer do filme não se mostra nenhum relato de uma família nuclear, mostrando sim uma diversidade de diferentes tipos de famílias, cada uma com suas origens, posições sociais, tragédias e alegrias. Casais de idosos que se conheceram após serem viúvos e divorciados, mulheres que engravidaram jovens e criam sozinhas seus filhos, saindo da casa dos pais após conflitos com eles e jovens que foram morar no Rio de Janeiro para tentar conquistar uma vida melhor. Em comum nessas histórias está a capacidade de cada um desses indivíduos de perseverar, mesmo com histórias de vida duras como a da moça que brigou com a mãe após ter sido obrigada por esta a fazer um aborto ou o ator que teve a carreira arruinada após um acidente de gravação.

Outro ponto central do documentário é a relação das vidas individuais dos moradores com a convivência com os vizinhos em um local como o edifício e aos arredores de Copacabana. Alguns dos moradores relatam sentirem-se oprimidos por conviver com tanta gente ao seu redor, demonstrando um desejo de se isolar dos barulhos e de não ter que encontrar com outras pessoas no elevador. Outros moradores citam episódios violentos que, antigamente, eram cenas frequentes dentro do condomínio, narrando as histórias com um ar nostálgico, mas concluindo seus relatos afirmando que hoje está tudo mais calmo, mais “família”. A questão da violência acaba também contribuindo para o isolamento, o que é ilustrado pela senhora que afirma ter medo de se envolver em relacionamentos amorosos pelo risco de a pessoa ser envolvida com drogas.

A própria concepção do documentário confronta essa condição de isolamento, visto que nele estamos indo no apartamento de vários de seus moradores e conhecendo suas histórias, indo além das interações no elevador mostradas pelas câmeras de segurança. O filme nos força então a reconhecer que essas pessoas são mais do que os ruídos que incomodam no dia a dia, mesmo as vezes a própria equipe se sentindo incomodada em determinados momentos.

O diretor está interessado, com este filme, em captar as percepções dos entrevistados com a sua própria história de vida, sua convivência dentro do edifício e com o Rio de Janeiro.

Portanto, neste filme os fatos em si não importam tanto quanto as personalidades que resultaram destes. O filme abre até margem para dúvidas quanto a veracidade nos discursos, como no caso da prostitua que afirmou ser muito boa em mentir logo após contar toda sua história.

Concordo com a abordagem adotada pelo diretor pois, desta forma, conseguimos ter o retrato de quem são essas pessoas, quais as suas histórias e como elas enxergam suas trajetórias.