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Mapas para a festa

Por:   •  8/12/2015  •  Trabalho acadêmico  •  2.134 Palavras (9 Páginas)  •  309 Visualizações

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COMO EXPRIMIMOS E COMPARTILHAMOS O CONHECIMENTO?

Na década de 70, o governador da Espanha, General Francisco Franco, ditador militar católico, era muito rude quando se falava em compartilhar conhecimento.

Dentro do seu mandato ele só comercializava livros marxistas de difícil acesso ao público em geral, uns porque eram escritos em apenas um idioma, outros eram de dialetos de difícil entendimento e outros, eram com valor acima do normal. Como ele comandava, tinha o poder de “escolher” todas as obras e ainda, fazia exclusão de muitos autores, só porque eram de outra religião.

Quase todos os seres humanos nasceram ouvindo e aprendendo um idioma. Este se torna tão familiar e espontâneo, tão enraizado em nosso ser, que chegamos a assumi-lo como se fosse uma realidade natural e eterna.

De um modo geral, refletimos pouco sobre a linguagem, sua história, variedade, mudanças e a importância de tudo isso. Exceto quando fizemos o esforço de conhecer e entender a fundo uma cultura diferente com outra língua, poucos pensaram acerca do fato de cada língua se achar ligada também, a uma maneira peculiar de ver e compreender o mundo.

A língua, ao mesmo tempo em que abre possibilidade, fixa limites, não apenas à nossa capacidade de conhecer a realidade, mas também à nossa habilidade para agir nela.

ALGUMAS DIMENSÕES DO PROBLEMA

A linguagem como instrumento de construção do mundo

Como é que tomamos conhecimento daquilo que aconteceu antes de nascermos? Como chegamos, a saber, aquilo que acontece em lugares onde nunca estivemos?

Pode-se dizer que, tudo aquilo que faz parte do nosso conhecimento foi adquirido através da linguagem, ou seja, nosso conhecimento advém de experiências comunicadas, das experiências que as outras pessoas tiveram e nos contaram, não sendo adquirido apenas por nossas experiências. Com isso, acredita-se que a linguagem além de ser nossa ferramenta de transmissão de conhecimento é também nosso instrumento de conhecimento.

Conhecemos o mundo através da palavra dos outros e depois, através de nossas próprias palavras quando dizemos a nós mesmos aquilo que vemos, sonhamos, desejamos ou sentimos. Apenas “impressões pessoais” ou sentimentos e intuições não bastam para formar o conhecimento a menos que seja possível expressá-las em palavras.

De certa forma, a nossa linguagem define possibilidades e limites do nosso conhecimento. Há idiomas, como os existentes em comunidades indígenas, que só é pensável afirmar algo que tenha sido vivido pela própria pessoa ou por alguém que esta conheça pessoalmente, porque através disso fica claro como é que se sabe o que se sabe e isto é denominado de “idioma responsável”. Já o idioma “não responsável” é aquele que se pode afirmar algo como “hoje vai esfriar” sem ao menos buscar explicações de como chegou a esta conclusão e isto ocorre em nossas línguas modernas.

Contudo, fica claro que cada cultura, através de sua língua, organiza e constrói o mundo e a realidade de maneira única e diferente de qualquer outra cultura ou língua.

Controle da linguagem e dominação

A Linguagem é uma ferramenta muito importante para a sociedade, pois tem o poder de transformar a realidade e, acarreta profundas consequências para as relações de poder entre as pessoas e as comunidades humanas.

Quando europeus invadiram a África e as Américas, por exemplo, o comercio começou a florescer, e buscou-se mão de obra escrava, e muitos dos donos de escravos compravam escravos de diversas regiões para que não conseguissem se comunicar, ou criavam políticas muito rígidas, com castigos e punições para os escravos que falassem uma língua diferente da língua dos patrões. Os escravos também eram proibidos de ler e escrever, pois dessa maneira não ficavam a par de coisas que os beneficiavam, como decretos que proibiam os donos de mutilação física entre outros. Esse método de controlar a linguagem compartilhada entre indivíduos é a melhor maneira de dominá-los, pois assim eles não conseguem ver sua situação, e acabam concordando e aceitando tudo que vem de cima.

Outro exemplo foi a história da Bíblia. Após a conversão do imperador Constantino, o cristianismo se tornou a religião oficial do império romano e da alta sociedade da época, e a Bíblia foi traduzida somente para o Latim, que era a língua oficial dos nobres e do clero, permanecendo assim por muito tempo, sem tradução para outras línguas, e, portanto, só tinha acesso à leitura da Bíblia e ao andamento dos cultos, a alta sociedade da época, já que os mais humildes não sabiam falar nem escrever o latim.

Existem outras formas mais sutis de exercer domínio e controle sobre a linguagem. Outra forma é oprimindo e discriminando as pessoas que não sabem falar a língua culta. Corrigir as pessoas de maneira grosseira, fixar e ensinar como se fala a forma culta da língua expondo ao ridículo as pessoas que não se encaixam nesse padrão, criando assim, indiretamente, uma ideia de superioridade de quem tem a fala culta e uma inferioridade de quem não usa a forma culta da língua. Por isso se deve tomar cuidado de como se corrige as pessoas e com que intuito. Outra forma semelhante é usar uma linguagem muito técnica para tratar de assuntos com pessoas comuns, usar de termos técnicos e termos de difícil compreensão acaba criando uma ideia de que a pessoa que fala é uma especialista, e que sua fala não pode ser criticada.

A comunicação silenciosa

Para o domínio dos poderosos, é do interesse deles silenciar os oprimidos e existem várias formas para fazer isso.

Existe o “silêncio cúmplice” que são aquelas pessoas que se calam por medo ou por alguma recompensa. Tem o “silêncio imposto” que seria uma forma de ditadura que até elimina pessoas, e o “silêncio submisso” que é o silêncio de pessoas que acreditam mais nas palavras dos poderosos do que na dos seus iguais.

Assim fica muito mais difícil de construir um conhecimento da sociedade, que vá além dos interesses dos poderosos.

Mas, todavia o silêncio não é sempre um obstáculo para o conhecimento. Faz parte da experiência do silêncio pessoas com certo tipo de deficiência, como a surdez por exemplo.

Na Venezuela existem prisões em que as pessoas, por ficarem distantes nas chamadas visitas, se comunicam através de gestos em meio às grades e a multidão, até chegar oficialmente o dia de visita frente a frente.

Enfim existem muitas formas de silêncio, e também temos o exemplo do silêncio mais eloquente. Na América os povos indígena e afro americano, muitas vezes as mulheres, as camponesas e os operários, se viram obrigados a cultivar uma enorme gama desses “silêncios eloquentes”, sobretudo nas relações com os grupos e pessoas que ocupam posição de maior poder.

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