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A Arte e Tecnologia

Por:   •  3/8/2016  •  Resenha  •  1.555 Palavras (7 Páginas)  •  459 Visualizações

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        A abundância de circulação e aquisição de conteúdos e produtos disponíveis no ciberespaço ocasionou um achatamento entre as indústrias culturais e as midiáticas. Se em um primeiro momento esse movimento enfraqueceu a indústria cultural, no atual contexto ela aparenta interagir e usufruir desses artifícios por meio da fruição de sistemas de curadoria algorítmica de informação, como os sistemas de recomendações utilizados por sites como o Last.fm e Netflix.

        A curadoria, na sociedade digitalizada, possui como finalidade a organização de dados a partir de critérios e recortes. Compreendendo que algoritmo trata-se de um código de programação executado numa dada periodicidade e com o esforço definido, podendo ser executado tanto por máquinas, quanto pela espécie humana (BERTOCCHI; CORRÊA, 2012) o algoritmo curador de informação ou curadoria da informação refere-se, portanto, a um procedimento criado para filtrar e ordenar dados sobre agentes conectados a rede.

        Em um espaço infinito, para produtos infinitos no universo denominado por Chris Anderson como cauda longa torna-se difícil distinguir o que é bom e o que é ruim. Para Zite ou Flipboard, o objetivo é produzir uma revista digital apenas com conteúdos relevantes para aquele usuário. Para a Amazon, o objetivo do algoritmo é ampliar o leque de sugestões para a compra de produtos. Independente de seus fins concretos, esses sistemas e softwares de recomendação vêm contribuindo para o direcionamento de conteúdo e distinção entre as informações indesejáveis das desejáveis, ofertando ao usuário apenas o que julgaria mais relevante.

        As alterações nas formas de mediação cultural apontam para novas lógicas de produção de crença nos bens simbólicos. Sob essa perspectiva Santini se debruça a três questionamentos em sua investigação: em que medida a mediação sugere modos de ver e sentir a própria experiência artístico-cultural? Como suas diferentes modalidades influenciam os comportamentos dos indivíduos e grupos? De que maneira mudanças na estrutura econômica e tecnológica transformam ou pode transformar as formas de lidar com a cultura? Para desenvolver seu estudo a autora baseou-se nos sociólogos Gabriel Tarde e Pierre de Bourdieu.

        A reflexão dessas questões inicia-se com a análise das lógicas sociais de produção de valor simbólico através do processo de recomendação, em especial os difundidos pelos meios de comunicação. Pela perspectiva da sociologia da cultura a formação de crenças e desejos no campo social é concebida por meio de sugestões. Tarde afirma que a opinião e gosto reduzem-se as sugestões dadas ao longo da vivência dos sujeitos, que em outrora fora absorvido.

Os gostos culturais são fluxos de crenças e desejos em contínuo processo de imitação, diferenciação e adaptação que tendem a propagar-se no campo social. Entretanto, faz-se necessário compreender como as crenças e desejos se propagam e como determinada semelhança entre milhões de pessoas é produzida. (SANTINI, 2011, pag. 3)

        Com o avanço dos meios de comunicação na vida cotidiana, as instituições sociais – família, escola – tiveram seu papel diminuído nas construções referenciais dos sujeitos. A partir da mediação cultural realizada pela mídia, organizando informações, sugestões e recomendações, as práticas e preferências culturais alcançam um contingente maior de agentes, suscitando um contágio coletivo de crenças e valores. Simone Sá considera pertinente compreendermos essa dinâmica fazendo uso da premissa levantada por Frith. Segundo o autor um dos maiores prazeres da cultura do entretenimento é a discussão sobre valores e gostos.

        Devido a esse atributo os meios de comunicação de massa tornam-se elementos fundamentais para a difusão de produtos dos mercados culturais utilizando processos de sugestão massiva estabelece uma economia de escala atendendo aos preceitos do capitalismo industrial, a circulação e troca de produtos passa a ser crucial para ampliar a base da acumulação socioeconômica. Os críticos da comunicação de massa e das indústrias culturais apontam esse processo de subjetificação exercido pela homogeneização generalizada (marketing) como o principal dispositivo de propagação dos processos imitativos entre indivíduos e grupos.

        No entanto, em um sistema baseado na produção em série e na transformação dos bens simbólicos em artigos comerciais faz-se necessário o aprimoramento de técnicas, para que seus mediadores produzam os seus consumidores. Bourdieu explana na sociologia do gosto que o campo da arte se constitui por agentes que disputam autoridade, legitimidade capital simbólico, pois o mercado cultural depende da produção do gosto e da criação de uma crença e apreciação em torno de seus produtos sendo o que viabiliza a economia desses bens.

        O trabalho de promoção, divulgação e publicidade promovidas pelos sistemas de recomendação e classificação dessas mercadorias é apontado como único capaz de anunciar o criador e consagrar a sua autoridade. Implicando que os meios de comunicação passaram a outorgar o valor social e a eleger e proclamar a autoridades dos críticos que os julgam, disseminando opiniões e operando como banqueiros simbólicos – oferecendo ao público todos capital simbólico que acumulou.

[...] os grandes grupos multimídia visam reforçar seu poder através do controle das recomendações ajustadas aos seus interesses econômicos, que inclui a pretensão de monopolizar as redes de distribuição, circulação e divulgação comerciais dos produtos culturais. Esse poder está afiançado na substituição gradativa do tipo de recomendação produzida e na subordinação cada vez maior dos espaços editoriais e de programação à publicidade comercial. (SANTINI, 2011, pg. 7)

Essa relação entre os sistemas de recomendação e o mercado artístico aponta algumas contradições instauradas entre os limites da relação entre economia e público. Os modos de consagração dos bem simbólicos através dos meios de comunicação de massa vêm-se transformando devido ao aumento da dependência desses veículos ao modelo de negócio e a pressão por parte dos acionistas se instala um ambíguo estatuto entre a publicidade e a indústria, em razão dessas condições, novas estratégias estão sendo pensadas a fim de contornar a concorrência comercial que se manifesta atualmente.

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