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Resumo de Ensaio Sobre a Dádiva - Marcel Mauss

Por:   •  20/12/2021  •  Resenha  •  1.000 Palavras (4 Páginas)  •  417 Visualizações

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Em Ensaio sobre a Dádiva, Marcel Mauss discorre a respeito da importância da troca nas

sociedades ditas primitivas. Ao contrário do que pensavam os autores da antropologia

evolucionista, Mauss entende o sistema de dádivas e reciprocidade não como um aspecto

puramente econômico, mas como um fenômeno que dialoga simultaneamente, enquanto fato

social total, com todos os segmentos da vida e estrutura social desses povos, tais como religião,

política e parentesco.

Neste sentido, o autor se opõe a teoria de que as trocas representariam uma espécie de economia

natural, pré-capitalista. Para Mauss, não se pode reduzir a dádiva a uma negociação

principalmente econômica, pois os objetos dados e retribuídos não se tratam apenas de bens

materiais, mas envolvem a troca de pessoas, ritos, relações, códigos morais, etc. Por isso, não se

trata de uma transação entre indivíduos com livre-arbítrio, mas de uma relação entre pessoas que

representam posições sociais que remetem a sua ancestralidade, parentesco e até mesmo a

divindades.

Sendo assim, apesar da roupagem do discurso apresentar o ritual da dádiva como um ato

voluntário e livre, não é exatamente assim que é visto pelas sociedades. O ato de doar e sua

recíproca tratam-se, em todos os grupos, de uma obrigação social, já que existem punições e

sanções sociais que decorrem da abstenção destes. Participar da troca, portanto, é participar da

sociedade e recusá-la é recusar a vida coletiva.

Um dos principais ritos estudados por Mauss e usados para exemplificar o esquema de trocas e

reciprocidade é o hábito do potlatch, comum em povos da América do Norte, já que neste as

particularidades da dádiva aqui expostas são mais facilmente observáveis.

Em sua obra, o autor conclui a centralidade dessas cerimônias em suas determinadas

coletividades: ao estudá-las, encontra-se a própria origem dos contratos sociais, da própria

sociedade e sua moral contratual, que sustenta a vida social como um todo. Entretanto, nas

chamadas civilizações contemporâneas, graças ao direito romano e germânico, a insensibilidade e

objetividade extremas têm tentado mudar a lógica universal deste fenômeno.

Dentro das sociedades nativas norte-americanas, o potlatch servia como um momento de

equilíbrio e estabelecimento das hierarquias internas, tendo papel político importante. Não são

opcionais, nem gratuitas e, em certo sentido, também expressam rivalidade entre as famílias,

porque os grupos sociais envolvidos na troca reafirmam, com suas dádivas, suas posições sociais.

Por se tratar de um ato moralmente obrigatório e essencialmente coletivo, o potlatch cria,

também, um mecanismo de seguridade social e familiar, pois, dentro da rede de trocas sempre

existe um recebimento futuro, um crédito a se ganhar por dádivas dadas anteriormente, que

funciona como uma espécie de distribuição de riquezas entre os grupos participantes.

Segundo Mauss, uma parte considerável da moral das sociedades contemporâneas também se

baseia nesse esquema de dádivas, obrigações e liberdade, pois, mesmo em nações capitalistas,

nem tudo ainda é classificado em termos de compra e venda e ainda há resquícios das velhas

tradições. Bons exemplos são os valores sentimentais que são atribuídos às coisas, a ofensa ou

vergonha que se sente quando se é objeto de uma caridade que não se pode retribuir, a

generosidade com os hóspedes e festas de casamento em que há troca entre as famílias. O autor

destaca, principalmente, o conflito com a moral que os direitos dos industriais e comerciantes

representam quando alienam o trabalhador, que tem a sensação de que sua produção é revendida

sem sua participação. No potlatch, pelo contrário, os objetos frutos do trabalho são considerados

como parte da essência de quem os fez, e possuem seu espírito. O produtor sente que o fruto de

seu trabalho é mais que um bem material: nele está seu tempo, sua vida. Quer, portanto, ser

compensado por essa dádiva.

Essa reação contra a insensibilidade da economia capitalista e do direito romano, que retirou o

espírito das coisas de suas leis, tornando-as objetos inanimados, é extremamente saudável,

segundo o autor. Como exemplo, cita as legislações

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