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Resenha do filme “Hanna Arendt”, detalhamento sobre o conceito de Banalidade do Mal

Por:   •  7/8/2019  •  Relatório de pesquisa  •  2.095 Palavras (9 Páginas)  •  338 Visualizações

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Em 1961, como enviada especial da revista The New Yorker, Hannah Arendt foi a Jerusalém para cobrir o julgamento de Adolf Eichmann. Segregada pelos nazistas durante a Segunda Guerra, a filósofa de origem judia procurou colocar a busca isenta da verdade acima do seu sentimento de ódio e acima do seu desejo de vingança. Eichmann estava sendo julgado por ter participado do extermínio de cerca de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Durante o ajuste de contas e julgamento do criminoso de guerra, Arendt percebeu uma coisa que a deixou perplexa. O réu enjaulado na cabine de vidro não era o monstro que ela imaginava que era. Pelo contrário, Eichmann era um homem normalíssimo: bom pai de família, bom cidadão, de ideias serenas e positivas, com personalidade sadia, um filho exemplar e um irmão dedicado. O que levou um homem comum, mentalmente são, a participar de um processo tão macabro e pavoroso?

Para tentar compreender esse fenômeno intrigante, Hannah Arendt formulou o conceito da banalidade do mal. Um homem comum, igual a muitos cidadãos normais, foi capaz de participar de um genocídio brutal como se fosse a coisa mais natural do mundo. Milhões de cidadãos da Alemanha, bem instruídos, cristãos devotos, carinhosos com os filhos, apoiaram ou se mantiveram omissos em relação ao monstruoso genocídio nazista.

Para entender a banalização do mal, Arendt procurou compreender, inicialmente, o tipo de mentalidade de Eichmann. O que mais chamou a sua atenção foi a extrema superficialidade da personalidade do réu. Eichmann demonstrou bastante ingenuidade em seus depoimentos. A incapacidade de pensar, de refletir sobre o significado dos próprios atos e de avaliar a dimensão do processo em que estava inserido poderiam constituir as características de um novo tipo de homem predisposto ao assassinato em massa em regimes totalitários.

Arendt compreendeu que a incapacidade de pensar não era apenas um traço da personalidade de Eichmann. Os nazistas tinham montado uma máquina de extermínio com uma estrutura organizacional de tipo militar e burocrático. O princípio da hierarquia e da disciplina constrangia os agentes subordinados a obedecerem cegamente as ordens superiores. Os agentes da burocracia militarizada foram desumanizados e, dispensados de pensar, viraram meros cumpridores de ordens. Homens comuns, sem poder manifestar vontade própria, tornaram-se simples peças de uma engrenagem burocrática poderosa que podiam ser substituídas sem qualquer problema. Dentro dessa engrenagem, esses homens coisificados e robotizados seriam capazes de cometer as piores atrocidades sem sofrerem qualquer forma de distúrbio emocional. Matar tornou-se assim uma coisa banal.

Inserido no aparelho burocrático nazista, Eichmann agiu como um animal condicionado a reagir por reflexo automatizado. Ele cumpriu fielmente a tarefa que lhe fora determinada de organizar a deportação de judeus para os campos de concentração. Não lhe cabia discutir as ordens que recebia. Não tinha o direito de pensar.

Assim, para os burocratas do Estado nazista, o extermínio de milhões de pessoas, inclusive de mulheres e crianças, tornou-se uma coisa corriqueira e banal porque eles deixaram de exercer a sua prerrogativa de pensar. A prática da violência tornou-se algo trivial por ausência de reflexão e pela suspensão do ato de julgar, pela suspensão da consideração do que é certo e do que é errado.

Arendt concluiu então que, para combater o mal, para que a barbárie não se repetisse, não bastava condenar indivíduos. Se Eichmann tivesse deixado de cumprir as ordens superiores, seria eliminado e substituído por um outro que cumpriria. O mal estava nos sistemas que viabilizam atividades abomináveis a partir de homens condicionados a enxergar a violência como coisa banal.

Apesar dessa argumentação de cunho materialista, Hannah Arendt não inocentou Eichmann. Ela considerava que, devido à condição humana, todo indivíduo é consciente e livre para fazer escolhas. Logo, responsável e passível de punição pelos seus atos. A filósofa seguiu esse princípio caro à ideologia liberal para apoiar o enforcamento de Eichmann.

Assim, apesar de ter sido um mero burocrata cumpridor de ordens, Eichmann deveria ser considerado responsável pelos seus crimes e precisava ser punido. Nada justificava a participação de Eichmann nas atrocidades do nazismo. Ele não estava despachando papéis mas milhões de judeus para o extermínio. Estava participando ativamente de um processo monstruoso de matança de civis. A responsabilidade pessoal não podia ser transferida para o sistema. Por isso, Hannah Arendt não inocentou Eichmann.

Ela aprovou o seu enforcamento mesmo tendo observado falhas no julgamento e mesmo tendo criticado a forma como o processo foi conduzido. O réu tinha sido sequestrado na Argentina sem a autorização do governo local. O tribunal foi constituído apenas por magistrados judeus. O réu tinha sido sequestrado na Argentina sem a autorização do governo local. O tribunal foi constituído apenas por magistrados judeus. O réu, além de não ter cometido pessoalmente nenhum crime objetivamente comprovado, foi julgado por leis que não existiam na época do crime perpetrado.

Arendt era pensadora de teoria política. Para ela, a responsabilidade moral é diferente da responsabilidade política. Eichmann podia não ser culpado, ou responsável moralmente, pelo genocídio, mas era responsável politicamente. Ele preocupou-se apenas com a sua sobrevivência individual, inclusive de sua família, e não reagiu diante de um crime pavoroso que estava sendo cometido contra a humanidade. O Tribunal de Jerusalém era um tribunal político, não poderia ter sido juridicamente imparcial.

Prefiro pensar a política da forma como aprendi com Maquiavel. Em determinadas situações cruciais, em que a sobrevivência de um povo estiver em jogo, a Política se coloca acima das questões de ordem moral. Podemos acrescentar que, no caso do julgamento de Eichmann, a verdade da Política foi considerada pelos judeus diferente da verdade do pensamento filosófico ou jurídico. A condenação de Eichmann era uma questão eminentemente Política. Era uma tentativa de proteção à humanidade evitando que fenômenos semelhantes se repetissem no futuro.

Mesmo tendo apoiado a condenação de Eichmann, Arendt deixou a comunidade judaica furiosa por ter sugerido que o burocrata nazista não era um monstro e que ele não era o único culpado. A filósofa judia criticou a falta de reação e a conivência dos conselhos de judeus com as políticas nazistas. Lendo essa crítica, os judeus acharam que ela estava defendendo o assassino carniceiro. Hannah acabou perdendo amigos. Perdeu o prestígio que tinha conquistado na intelectualidade judaica em Israel, na Europa e nos Estados

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