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Resenha Filmes Ken Loach

Por:   •  24/11/2020  •  Resenha  •  2.384 Palavras (10 Páginas)  •  178 Visualizações

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO [pic 1]

Faculdade de Formação de Professores

Departamento de Ciências Humanas – DCH

São Gonçalo, 04 de novembro de 2020.  

 [pic 2]

Antropologia e Sociologia Geral

Professores: Gustavo Villela Lima e Joana D’Arc Bahia.  

Alunos: Beatriz L. S. Deus

 

 

1-Nos filmes de Ken Loach (ver atividades assíncronas) temos diferenças socialmente construídas, e produzidas por um estado de bem estar social, que cada vez mais reduz seus benefícios, de modo vocês podem relacionar o filme aos conceitos discutidos nos textos de Marx, Weber e Wacquant?

 

No filme Você não Estava Aqui, do cineasta inglês Ken Loach, podemos ver claramente retratada a precarização das condições sociais, expondo a servidão iludida como emprego autônomo, conhecido como “uberização”, ao questionar o trabalho, podendo ser discutido, assim, as diferenças socialmente construídas por um estado de bem estar social, este que cada vez mais reduz seus benefícios em prol do trabalhador.

 O filme se desenrola em torno de uma família pobre, onde Ricky, o pai da família, é atraído pela condição de ser o “patrão de si próprio”, e se torna motorista de uma grande franquia de entrega expressa. Sendo este empreendedorismo moderno que impõe sobre Ricky Turner altas jornadas de trabalho sem descanso, se torna a vilã da trama a precarização do trabalho e o ritmo acelerado do mesmo, oferecendo conforto de uns (beneficiários) enquanto agrava condições sociais de outros (os trabalhadores), o que claramente exemplifica as diferenças sociais construídas ao longo do tempo.

 Para além da “uberização do trabalho”, o filme impõe a “uberização da vida”, tentando voltar os olhos para o caos da vida tecnológica que, ao invés de garantir a promessa de liberdade, escraviza o homem, criando, aí, uma “falsa ilusão” de liberdade. Para Karl Marx, (1983, p.829), há duas espécies diferentes de possuidores de mercadorias, que se confrontam: o proprietário do dinheiro, dos meios de produção e de subsistência, empenhado em aumentar a soma de valores que possui comprando a força de trabalho alheia, e os trabalhadores livres.  Segundo ele, a liberdade do trabalhador pode ser definida em dois sentidos, “porque não são parte direta dos meios de produção, como escravos e servos, e porque não são donos do meio de produção, estando assim livres e desembaraçados deles.” (MARX, 1983, p.829).  

 

 No início do filme, Ricky é entrevistado pelo gerente de uma franquia expressa, que lhe explica as “maravilhas” de trabalhar nesta franquia, da autonomia sobre os ganhos e sobre a rotina, além da desvinculação de empregado e empresa.  Todas essas “maravilhas”, vendem a ideia de um guerreiro da própria vida, exemplificada na fala do gerente “Você não trabalha para nós, você trabalha conosco.”, anunciando uma escravidão ideológica e, mais tarde, trabalhista. Contudo, ao ingressar no trabalho, o que nos é demonstrado é o contrário do que garantia a fala do gerente ao descrever o trabalho autônomo, demonstrando a exaustão do empregado estabelecida pela demanda da franquia que, por si própria, apenas lucrava com o nome e fincava seu poder de controle sobre o seu empregado. De acordo com Weber (1982,

p.211), entendemos por “poder” a possibilidade de que um homem, ou um grupo de homens, realize sua vontade própria numa ação comunitária até mesmo contra a resistência de outros que participam da ação.”  

 Weber trabalha o significado de poder como amorfo, sem que este possa ser detido. É uma relação, estabelecida entre uma ou mais pessoas em uma relação social. Com todo esgotamento do trabalho de Ricky e as consequências drásticas sobre a sua vida familiar devido a relação de poder estabelecida entre empregado e empresa, é possível claramente observar que a liberdade e facilidade de trabalho prometidos pela modernidade tecnológica não passam de uma fraude.  

 A família do Ricky também se destaca na crítica do filme, enquanto a filha caçula da família, chamada Liza Jane, que possui 11 anos, procura sempre contato com a “vida humana”, já que não a encontra em casa. O filho mais velho, Seb, com 16 anos, livre e rebelde, totalmente o oposto do que seu pai era, e a mãe, Abby Turner, que corre diariamente atrás de diferentes ônibus para chegar na casa dos idosos que cuidava, se intercalava na preocupação com os filhos, com quem só conseguia falar pelo telefone, entre essas corridas diárias, demonstrando à nós o declínio emocional e estrutural da família em meio a esse processo de “uberização” do trabalho do chefe familiar.

 

 

 Voltando-se para o documentário O Espírito de 45, também do inglês Ken Loach,  é objeto de comemoração especial para o cinema, sendo resultado de um grande trabalho de pesquisa e recuperação de cenas verdadeiras da publicidade do período pós guerra da II Guerra Mundial, na Inglaterra, afim de mostrar que o os soldados, retornando do conflito, e aqueles que ficaram trabalhando nas fábricas e minas, não queriam continuar no mesmo país, profundamente atingido pela recessão e miséria no período entre guerras.  

 O país diante das tarefas de reconstrução e da reconversão da economia de guerra, mobiliza a maioria social, avistando uma nova distribuição de riqueza em salários diretos e proteção social. Essa imagem social pode ser ilustrada no documentário pelo Winston Churchill, vaiado pela população, num comício eleitoral de 1945. Após o fim da guerra, o chefe é vaiado em plena rua por outro conflito, o de classes, num país desigual que buscava uma mudança.

 Essa mudança, Loach deixa claro com testemunhos de épocas e de idosos que viveram nela, além de historiadores recentes, marca a virada do país, com estatização de insumos essenciais (água, eletricidade, transporte etc), com a construção de casas populares e controle inflacionário. A união do povo, segundo o documentário, retirava o poder dos aristocratas, e devolvem aos trabalhadores o controle de sua vida. Trabalhadores, esses, podendo ser apontados como “classes”, segundo Weber, onde “’classes’ não são comunidades; representam simplesmente bases possíveis de ação comunal.”  (WEBER, 1982, p. 212). Essa condição pode ser considerada uma vez que certo número de pessoas tem em comum um componente casual específico em suas oportunidades de vida, e na medida em que esse componente é representado exclusivamente pelos interesses econômicos da posse de bens e oportunidades de renda.  

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