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A INCLUSÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA DO CORONAVÍRUS, NUMA PERSPECTIVA RACIAL

Por:   •  20/8/2020  •  Resenha  •  1.290 Palavras (6 Páginas)  •  155 Visualizações

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ANÁLISE DO TEXTO E VÍDEOS:

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008, p. 1-51.

MEDEIROS, Carlos. Raça e racismo no Brasil. Café filosófico CPFL. 2016.

CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Tradução de Mário de Andrade. 2018.

Inclusão em tempos de pandemia do coronavírus, numa perspectiva racial.

O texto “Pele negra, máscaras brancas” de Frantz Fanon, autor influente no pensamento

político e social nos estudos culturais e filosóficos, traz em seu prefácio, introdução e

primeiro capítulo relatos da relação entre os negros antilhanos colonizados e os brancos

franceses colonizadores. Sendo o homem branco considerado ser humano constituído por

cultura, civilização e passado histórico, o negro passa a desejar ser branco para assumir tal

condição e ter chance de demonstrar perante a sociedade branca a riqueza de seu

pensamento e espírito. Por isso, a linguagem surge como um meio para a concretização de

tais anseios. Falar é existir para o outro. É assumir uma cultura e civilização. Assim, quanto

mais os negros antilhanos assimilassem os valores culturais e linguísticos franceses, mais se

aproximariam do ideal de homem verdadeiro. Quanto mais rejeitassem sua negridão, mais

brancos seriam. Tornariam-se menos antilhanos e mais franceses. Adotando a língua

francesa nas Antilhas, os negros falariam como um branco e, assim, a língua crioula seria

extinta. É daí que se originam os esforços dos negros contemporâneos em provar ao mundo

branco, a todo custo, a existência de um passado histórico culturalmente rico na civilização

negra.

Como é relatado no discurso sobre o colonialismo de Aimé Césaire, poeta, dramaturgo,

ensaísta e político da negritude no século XX, a vitória das lutas emancipatórias das colônias

europeias nas Antilhas (e em outros lugares como Ásia, África e Oriente Médio) fez com que

a dominação colonial direta deixasse de ser a principal forma de opressão, concedendo

espaço para um novo tipo de repressão: a imperialista. Esta oferece privilégio a formas

dissimuladas de domínio indireto, como por exemplo, por meio da dependência econômica

e financeira, das pressões diplomáticas e militares, da invasão cultural e tecnológica e da

aliança com frações das classes dominantes locais.

Trazendo esse ponto que Aimé ressalta em seu discurso para o cenário brasileiro atual,

pode-se notar a veracidade de tal citação. Para compreender melhor o momento presente, é

necessário observar o passado. O jornalista Carlos Medeiros conta um pouco acerca disso

em sua conversa sobre raça e racismo para o Café Filosófico. Apesar da abolição da

escravidão em 1888, um importante evento histórico, a elite brasileira percebeu que com o

fim da escravatura a maioria da população livre seria constituída por não brancos em uma

época na qual as ideias racistas eram predominantes e segregavam pessoas de acordo com

seu fenótipo e cultura. Assim, os brancos sempre ocupavam o topo da pirâmide social

enquanto os não brancos compunham a base. Passaram a dominar os negros indiretamente.

Além de receberem tratamentos diferentes, não tinham acesso aos mesmos locais que os

brancos, não desfrutavam do mesmo acesso a uma educação de qualidade, não possuíam as

mesmas oportunidades dentro do mercado de trabalho e não usufruíam dos mesmos

privilégios que as pessoas brancas gozavam. A discriminação começava desde os olhares

julgadores na rua até a sanção de leis como a Constituição de 1934, considerada a mais

racista de todas por afirmar no capítulo de educação que a mesma deve ser baseada nos

princípios de eugenia e, no capítulo sobre imigração, validar uma política de cotas que

estabelece a permissão de entrada no Brasil somente para pessoas de determinadas regiões.

E assim, o racismo foi naturalizado na sociedade brasileira. As pessoas não o percebem,

apenas repetem o preconceito e, assim, o acabam perpetuando. Gilberto Freyre, famoso

escritor e sociólogo brasileiro, foi um grande divisor de águas quando afirmou que os negros

não eram inferiores do ponto de vista biológico, podendo assim ser agregados à sociedade

branca dominante. Seu pensamento se completa com as ideias de Aimé Césaire em seu

discurso, pois este sustenta a noção de que, como somos todos seres humanos, não há

sentido a luta de líderes políticos e militares, missionários cristãos, cientistas e escritores

ocidentais em buscar justificativas à colonização pela suposta existência de raças superiores

e inferiores, atribuindo aos brancos a imaginária missão de civilizar povos não brancos.

Apesar da repercussão desses pensamentos contrários ao preconceito racial, o racismo

existe a gerações e, infelizmente, tem fincado raízes em diversas sociedades.

Atualmente, vivemos um momento histórico de colapso mundial devido ao surgimento

do novo coronavírus e sua veloz proliferação. Com o desenrolar da pandemia, os sistemas de

saúde entraram em crise com tantos enfermos precisando de leitos. Visto tal problema,

decretou-se a quarentena em diversos países a fim de que, com menos aglomerações nas

ruas, a propagação do vírus diminuísse com as pessoas ficando protegidas da doença em

casa e, assim, a demanda de leitos em hospitais se tornasse menor. Porém, com esse

período de reclusão social, muitos estabelecimentos comerciais tiveram que fechar as portas

e, com o lucro decaindo, foi-se necessária a demissão de diversos funcionários, gerando

desemprego. Tal epidemia, além de causar numerosas mortes e crises em vários setores da

sociedade, apontou de modo notório as desigualdades sociais e raciais. “Estamos todos no

mesmo barco” nos é dito. Porém, como é possível acreditarmos que o branco de classe

média com acesso a internet, trabalhando por home office em seu computador e com a

despensa cheia de alimentos, está no mesmo barco que o preto, residente de favela cuja

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