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A MATEADA ESCOLAR COMO FORMA DE MANUTENÇÃO E DISSEMINAÇÃO DA CULTURA TRADICIONAL GAÚCHA

Por:   •  4/7/2017  •  Seminário  •  1.996 Palavras (8 Páginas)  •  251 Visualizações

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A MATEADA ESCOLAR COMO FORMA DE MANUTENÇÃO E DISSEMINAÇÃO DA CULTURA TRADICIONAL GAÚCHA

Elida Regina Nobre Rodrigues

RESUMO: O Rio Grande do Sul é um estado rico em festas e eventos, mas nenhum deles iguala-se em proporção e unaminidade quanto às comemorações que ocorrem no mês de setembro, no dia 20 é comemorado o Dia do Gaúcho, nessa ocasião ocorrem cavalgadas, acampamentos, tertúlias, bailes, jantares e desfiles em todos os recantos do Estado. Os CTGs (centros de tradições gaúchas) ficam lotados para celebrar a data, nesse contexto, as escolas costumam realizar atividades que cultivam a cultura gaúcha, para Morin (2003) cultura, entre outras definições, é o capital adquirido de saberes, fazeres, crenças e mitos transmitidos de geração em geração. Mas o que é uma mateada escolar? Geralmente é a culminância das atividades realizadas durante esse mês, nessa ocasião a escola recebe os alunos e a comunidade escolar com exposições, apresentações de danças, declamação de poesias, encenações, brincadeiras e gastronomia típica – como as aguardadas “tortas fritas”, que são uma iguaria típica da nossa fronteira com o Uruguai – usualmente as crianças e professoras vestem-se com trajes tradicionais e levam seu chimarrão para compartilhar. Até pouco tempo eu observava esse movimento como apenas mais uma atividade escolar, no entanto, ao continuar meus estudos, pude constatar o quanto a mateada é significativa. Acredito que ver os elementos que fazem parte da cultura diária de cada um, como o simples ato de preparar um mate ou ouvir uma música tradicional gaúcha, tomarem a dimensão de conteúdo escolar, promova a aproximação entre família e escola, valorizando a cultura popular e servindo de inspiração para acolher diferentes manifestações que vêm a somar na dinamicidade dessa cultura, como o “Cordel Gaúcho” apresentado por um poeta local, que serviu de inspiração para um trabalho de pesquisa sobre lendas e personagens típicos do município, de acordo com Morin o inesperado nos surpreende, mas devemos estar prontos para esse inesperado; como aprender cultura gaúcha em folhetos de cordel, ou a apresentação de uma invernada artística composta por crianças e adolescentes com deficiência intelectual, que encantou a todos e levantou posteriores debates em aula sobre tolerância e aceitação de diferenças. Essa é apenas uma mostra de como esse evento tem contribuído na educação global dos indivíduos, tanto na manutenção e disseminação de nossa cultura tradicional, quanto no questionamento e reflexão da manutenção dessas mesmas tradições, como colocado por Freire (1981) que enquanto os animais se adaptam ao mundo para sobreviver, os seres humanos o transformam. Se uma manifestação cultural já não condiz com nosso tempo ela precisa ser refletida, discutida e contextualizada, como propõem Alves (2004), ao colocar que os professores não são aqueles que conhecem os saberes, mas sim aqueles que sabem encontrar caminhos para eles. Esse caminho pode ser através dos livros e escritos, mas também do conhecimento da cultura popular que acontece no cotidiano das pessoas, uma vez que “estudar não é um ato de consumir ideias, mas de criá-las e recriá-las” (Freire 1981) mantendo a cultura viva, no sentido exato da palavra.

PALAVRAS-CHAVE: cultura popular; memória; celebração.

INTRODUÇÃO

Este trabalho busca apresentar um pouco da cultura gaúcha ensinada em uma escola da rede estadual de ensino do Rio Grande do Sul, através da mateada escolar, que vem a ser um evento de culminância das atividades realizadas durante o mês de comemorações alusivas ao dia do gaúcho.

DESENVOLVIMENTO

        O Rio Grande do Sul é um estado rico em festas e eventos, são de conhecimento público as festividades de origem alemã, como as festas da cerveja, das cucas, ou de procedência italiana, como a festa da uva e do vinho, mas é de senso comum que nenhuma deles iguala-se em proporção e unaminidade quanto às comemorações que ocorrem no mês de setembro, o mês dedicado a rememorar a semana farroupilha. Para entender melhor os motivos que cercam essa comoção creio ser oportuno expor, em linhas gerais, o que foi esse movimento. No dia 20 de setembro de 1835 teve inicio no Rio Grande do Sul uma revolta civil dos ricos fazendeiros, comerciantes de charque, contra o império brasileiro, tal revolução teve como estopim principal os altos impostos que a coroa portuguesa impunha ao produto gaúcho. Durante o andamento da revolução foi proclamada a república rio-grandense, com a criação de uma constituição própria, onde constaria a libertação dos negros escravizados, algo  avançado para a época. Com essa promessa muitos negros foram lutar na guerra esperando a liberdade prometida ao final, índios e pequenos proprietários pobres também tomaram parte nos combates, esperando que, com a vitória, pudessem viver em uma sociedade mais igualitária e justa.  Essa revolução durou aproximadamente 10 anos, tempo em que o povo gaúcho lutou bravamente, mesmo com recursos esparsos, pelos seus ideais, a maior revolta civil da história do império brasileiro, e teve seu fim após um acordo dos fazendeiros com o império.

        Bom, essa era a história contada nos livros didáticos e bancos escolares na década de 80, quando eu cursei o ensino fundamental, e desconfio, até hoje em algumas escolas. No entanto hoje se sabe outra versão da história, historiadores e estudiosos do tema descortinam fatos que décadas atrás não eram de conhecimento público. De acordo com o pesquisaram mais a fundo documentos da época e o outro lado da revolução começou a vir a tona: Foi uma revolução da elite para continuar mantendo seu padrão de elite; não era um objetivo inicial nem fundar a república e nem a separação do Rio Grande do Sul do Brasil; a constituinte, que não foi concluída, não previa a libertação dos escravos e nem direitos maiores aos índios, mulheres e pobres; foi uma revolução dura e sangrenta, com degolas, saques, estupros e outras atitudes nada valorosas ou gloriosas; o acordo que pôs fim a revolução só foi vantajoso aos grandes fazendeiros, o império perdoou a “insubordinação” dos revoltosos após o pagamento de polpudas indenizações e a captura covarde dos escravos que haviam sido libertos para lutar como homens livres, uma vez que, homens negros com alto treinamento militar ofereciam um grande risco a ordem nacional vigente.que receberam altas quantias em dinheiro, terras e honrarias; os negros, os que sobraram após conchavos e traições, foram entregues ao império e tiveram fins diversos, desde a continuação no trabalho escravo a incorporação no corpo da marinha imperial (MACHADO, 2010).

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