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A Construção do TDAH na rede de relações de duas crianças: um estudo a partir da teoria ator-rede

Por:   •  3/7/2018  •  Projeto de pesquisa  •  2.252 Palavras (10 Páginas)  •  184 Visualizações

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A construção do TDAH na rede de relações de duas crianças: um estudo a partir da teoria ator-rede

RESUMO

O discurso da medicalização se faz presente na sociedade produzindo uma única verdade sobre os corpos, a verdade biológica através da incursão do saber médico nas relações sociais. Os transtornos mentais ancoram-se nos discursos medicalizantes e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ganhou notoriedade na década de 1990 e ainda nos dias atuais ocupa um grande espaço nas discussões científicas. A presente pesquisa, à luz da Teoria Ator-Rede apresentada por Bruno Latour, tem como objetivo descrever a rede de relações de duas crianças diagnosticadas com TDAH na cidade de Maringá – PR, seguindo os movimentos e agenciamentos desta rede que performam a realidade do transtorno. Serão entrevistadas pessoas que fazem parte da rede relacional destas crianças (desde que indicadas pela família) e registrados momentos de interação da criança com sua rede.  Seguir os momentos significativos de interação de duas crianças em sua rede relacional pode trazer elementos para pensarmos o fenômeno, diferente das descrições médicas tradicionais possibilitando intervenções em que a criança seja entendida para além das categorias diagnósticas.

Palavras-chave: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade; teoria ator-rede; rede de relações; meidicalização.

INTRODUÇÃO

O discurso medicalizante se faz presente na sociedade desde o século XIX com o advento da medicina social. A medicalização se refere a um processo de incursão de um único saber, o saber médico, nas relações sociais, produzindo uma única verdade sobre o corpo, a verdade biológica. (FOUCAULT, 2004; 1977).

Os transtornos mentais, objeto da psiquiatria moderna, ancoram-se muitas vezes nesse discurso da medicalização, que  produz sentidos no contexto aos quais estão inseridos. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um destes transtornos e ganhou notoriedade principalmente no início da década de 1990 – considerada a “época do cérebro” pelas associações de saúde e saúde mental estadunidenses – devido ao controverso diagnóstico e seu substancial aumento e consequente ampliação dos estudos acerca do TDAH, na referida década (CALIMAN, 2009).

Mesmo com o avanço tecnológico no campo da saúde e nos estudos sobre o cérebro, diagnósticos por análise de imagens sofisticadas e a produção acerca da genética humana, não podemos afirmar que o TDAH é um transtorno estritamente biológico. Há de se questionar também a que/quem serve essa afirmação e a necessidade de se encontrar uma explicação única e biologicista baseada nas chamadas ciências duras.

Assumo aqui uma posição de que o TDAH é uma construção social ou seja, a sua origem não está dada a priori na natureza, aguardando um exame de imagens para ser descoberto, mas é constituído através de negociações relacionais e conversacionais de diversos saberes que o produzem. O saber biológico e científico é apenas um dos saberes acerca do transtorno e que como tal produz sentidos de acordo com suas convenções, agenciamentos e práticas discursivas.

Assumir esse posicionamento, de que a intervenção prática, seus agenciamentos e redirecionamentos é que produzem o TDAH, é dizer sobre sua multiplicidade, em que a prática produz e faz performar diversas realidades, multiplicidades que se articulam de acordo com os atores humanos e não humanos envolvidos nesse processo (MORAES, 2013). Nesse pressuposto, Latour (2012) lança mão de uma ferramenta descritiva desses agenciamentos e redirecionamentos que ele chama de Teoria Ator-Rede. Para o autor as relações são pautadas entre entes heterogêneos, híbridos de humanos e não-humanos que performam a realidade de uma rede de relações. Seguir os movimentos e redirecionamentos em uma rede relacional é mais importante do que explicar por que as coisas acontecem.

Assim podemos dizer, assumindo este posicionamento, que o TDAH é múltiplo, ao mesmo tempo é mais que um e menos do que muitos (MOL, 2002), ou seja, as diversas versões sobre o transtorno mantém uma relação entre si e não está totalmente fragmentado (CORDEIRO; SPINK, 2014).

Nesse sentido, pretendo com esta pesquisa proporcionar e contribuir para novas reflexões acerca do TDAH e sua produção na infância acompanhando as interações e agenciamentos na rede de relações de duas crianças diagnosticadas com o transtorno.

HIPÓTESE

Acompanhar as interações, agenciamentos e redirecionamentos em momentos significativos na rede de relações dessas crianças, pode fornecer elementos que permitem pensar o fenômeno a partir de novas descrições não contempladas nas definições médicas convencionais. Estas novas descrições podem indicar possibilidades de intervenção inovadoras junto ao fenômeno estudado.

OBJETIVO PRIMÁRIO

Tenho como objetivo para esta pesquisa, descrever as redes de relações que se articulam acerca do diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) de duas crianças. À luz da Teoria Ator-Rede essa descrição implica em seguir os movimentos e redirecionamentos que vão ocorrendo nessas relações durante a pesquisa de campo, articulando atores humanos e não-humanos ou conforme definiu Latour (1994), actantes que compõem a rede.

OBJETIVOS SECUNDÁRIOS

Identificar como os movimentos e redirecionamentos na rede podem convidar novos actantes para construir outras redes e performar outras realidades acerca do TDAH.

Buscar em que momentos esses movimentos eliminam as multiplicidades do TDAH e, em que momentos produzem multiplicidades.

METODOLOGIA PROPOSTA

Para a presente pesquisa, optei por seguir os caminhos teóricos da Teoria Ato-Rede (TAR) calcada nos estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). A TAR pretende ir além dos discursos e das narrativas e se propõe a seguir as redes sócio-técnicas, observando seus dispositivos manifestados em diversas materialidades.

Pensando nos objetivos de minha pesquisa, utilizarei o referencial teórico de diversos autores envolvidos com os estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade, os chamados estudos CTS difundidos na década de 1980 e, mais especificamente a Teoria Ator-Rede (TAR) consolidada nos anos 1990 (MORAES; ARENDT, 2013).  Fazer pesquisa orientado por estes estudos significa afirmar que nenhum parâmetro é dado a priori, o método se constrói a partir dos efeitos das associações, das questões, das controvérsias que vão surgindo no decorrer da pesquisa (MANSO, 2010; MORAES; ARENDT, 2013; LATOUR, 2012).

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