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O Freud e a Pisicanalise

Por:   •  17/6/2021  •  Resenha  •  8.728 Palavras (35 Páginas)  •  134 Visualizações

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RESUMO Freud e a psicanálise

O solo cultural de onde emerge a psicanálise é rico e variado. Na figura de seu fundador, Sigmund Freud, convergem várias tendências da cultura europeia dos séculos XVIII, XIX e do XX, já que parte significativa de sua obra foi publicada no século passado. Freud nasceu em Freiberg, mas sua família mudou-se para Viena quando ele tinha três anos de idade. É difícil abordar o solo cultural do qual provém a psicanálise sem mencionar a biografia de seu criador.

Evidentemente, não se está sugerindo que Freud é uma criatura excepcional, um gênio capaz de criar uma teoria inteira a partir do nada ou, o que dá no mesmo, unicamente a partir de si mesmo. Em outras palavras, o arcabouço conceitual da psicanálise, assim como a prática clínica que lhe é correlata, tem parte importante de suas raízes nas experiências vividas por Freud e por ele tomadas como material de elaboração psíquica e reflexão teórica. Porém, as noções e hipóteses metapsicologias são forjadas e articuladas de maneira a constituir modelos para a compreensão de fenômenos psíquicos que povoam a clínica e a vida quotidiana. Ora, Freud observa tais fenômenos em seus pacientes, amigos e familiares, mas também, e talvez primeiramente, em si mesmo.

Longe de um simples deleite em registrar as oscilações de sua «meteorologia interna», pode-se ver na autoanálise de Freud a tentativa de investigação sistemática de sua própria vida psíquica, com o intuito de extrair indícios que, somados a outros, pudessem contribuir para fazer avançar ou consolidar alguma formulação teórica em vias de elaboração. Tomemos, por exemplo, o caso dos sonhos. É sobretudo com base na investigação de seus próprios sonhos – analisados sistematicamente a partir de 1895 – que Freud escreve A interpretação dos sonhos, um dos principais livros de sua extensa obra, no qual traz a público pela primeira vez um amplo modelo sobre a estrutura e o funcionamento da psique humana em geral. Mas a análise empreendida por Freud de suas próprias lembranças infantis foi decisiva para que chegasse a reconhecer que estava diante de um complexo de fantasias e sentimentos de caráter universal.

Os anos de juventude, incluindo-se aí a sólida formação humanística recebida no período de LICEU, foram decisivos para as feições que a psicanálise viria a tomar. Nessa fase, Freud aprende diversos idiomas e inicia os estudos de humanidades que o iriam acompanhar para sempre. Em meio a grandes nomes da literatura universal e contemporâneos de todos os matizes, sobressaem os autores de língua alemã de extração clássico-romântica, como Heinrich Heine, Friedrich Schiller e, acima de todos, Johann Wolfgang von Goethe – figura central no universo intelectual de Freud sendo citado mais de uma centena de vezes em seus escritos. Como observam alguns comentadores, as preferências de Freud no campo das artes são bastante conservadoras , o que contrasta com o caráter revolucionário de suas concepções sobre os processos envolvidos na ARTE e na CRIAÇÃO, bem como das leituras psicanalíticas a que submeteu diversas obras de arte, analisadas em textos como Delírios e sonhos em A Gradiva, de Jensen , Uma lembrança infantil de Leonardo da Vinci e O ‘Moisés’, de Michelângelo .

Composta por mais de 2.000 objetos das mais variadas procedências, testemunha o grande interesse de Freud por civilizações antigas e pela arqueologia, assunto pelo qual tinha especial predileção. Se enfatizamos a formação humanística de Freud e a diversidade de seus interesses artístico-literários, é porque isto se infiltra profundamente na psicanálise. Não apenas os textos de Freud são pontilhados desse tipo de referência, como seu próprio estilo de escrita e argumentação é bastante literário. Sua prosa elegante foi admirada por muitos críticos e o único prêmio que Freud recebeu em vida, o Prêmio Goethe, foi-lhe atribuído pelas qualidades literárias de sua obra.

Freud considera que a OBRA DE ARTE é criada a partir dos mesmos conteúdos e mecanismos presentes nos sonhos e nas demais formações do inconsciente. A vertente humanística e literária da formação de Freud acaba se mesclando e servindo de contraponto a uma outra tendência que entra em cena quando do ingresso na Faculdade de Medicina. Os estudos universitários introduzem o jovem Freud na fortíssima tradição da CIÊNCIA EXPERIMENTAL E POSITIVISTA hegemônica entre seus mestres. Se no início ainda teve interesse pelos estudos filosóficos, aos poucos foi se convertendo ao materialismo que embasava as ciências naturais, inclusive as áreas de pesquisa por ele percorridas, como fisiologia, anatomia cerebral, neurologia e psiquiatria.

Em seguida, Freud foi aluno de Theodor Meynert , líder de uma psiquiatria que hoje chamaríamos de organicista, pois tendia a reduzir os fenômenos psicológicos e psicopatológicos a seu substrato orgânico . Já encaminhado para a clínica de moléstias nervosas e interessado pelo fenômeno da histeria, Freud vai a Paris estudar com Jean Martin Charcot , expoente maior da psiquiatra dinâmica francesa, que, diferentemente da alemã, afirma a prioridade das manifestações clínicas sobre os modelos teóricos e a pesquisa experimental, bem como privilegia a centralidade dos fatores psíquicos na causação das patologias mentais. Ou seja, a temporada com Charcot consolida, para Freud, o caminho para uma prática clínica com as psiconeuroses – uma medicina da alma –, inicialmente lançando mão da hipnose, mas gradativamente criando seus próprios métodos para a condução dos tratamentos. Lembre-se que a ciência EXPERIMENTAL se consolidou, no decorrer dos séculos XVII e XVIII, como o grande modelo de cientificidade.

Na visão do próprio Freud, o fato de ser judeu lhe conferia algumas disposições psíquicas (como a tendência à crítica e à independência intelectual) imprescindíveis para sustentar a fundação de uma nova e polêmica ciência. Em termos mais sociológicos, a condição judaica é um dado relevante na medida em que explica certos movimentos da trajetória profissional de Freud (por exemplo, sua ascensão na carreira universitária foi bastante lenta por conta do antissemitismo sempre presente, de forma mais ou menos velada, na sociedade vienense) ou dos rumos tomados pelo movimento psicanalítico (um dos aspectos que pesou na escolha de Carl Gustav Jung (1875-1961) como primeiro presidente da IPA foi o fato de ele ter origem protestante, pois Freud temia que a psicanálise fosse encarada como uma “ciência judaica” por causa do grande número de adeptos judeus

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