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Resenha do Filme Colpo di Luna

Por:   •  15/3/2019  •  Resenha  •  2.190 Palavras (9 Páginas)  •  733 Visualizações

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Resenha do filme Colpo di Luna: Um novo olhar em relação a saúde metal

O filme italiano de 1995, Colpo di Luna, traduzido em português como Uma Janela para a Lua, dirigido por Albert Simono conta a historia de um físico chamado Lorenzo, de 39 anos, que volta ao lugar onde nasceu, na Sicilia, sul da Itália após ter vivido muitos anos no Norte. Este almeja grandes coisas para o futuro, o que o move a pesquisar a origem dos buracos negros, sempre no intuito de se desvencilhar do passado. Porém, durante esse retorno ao seu local de origem, acaba fazendo uma "viagem" por sua própria história, o que o leva ao reencontro consigo mesmo, através do encontro com outros personagens que trava contato na cidade. Descobre que eles vivem numa comunidade terapêutica, em que um jovem médico usa uma maneira criativa e diferente de tratar problemas psicológicos.

Lorenzo planeja vender a casa onde cresceu, porém são necessárias reformas, principalmente do telhado, que foi quebrado pela queda de uma árvore. Para isso, um senhor (que serviria de pedreiro) chamado Salvatore com alguns ajudantes se dispõem ao conserto do telhado, dali em diante, muito iria mudar na existência de Lorenzo. Aos poucos, ele começou a perceber certa “estranheza” nos comportamentos e nas falas desses ajudantes, com isso, reclama para o senhor, dizendo que eles não pareciam normais, este diz para ter paciência e não se preocupar.

Em uma cena aparece bêbado na casa do Sr. Bardoni, reclamando que sua vida estava um desastre: cortaram o financiamento do projeto dos buracos negros e Alba fora embora, este o acolhe e ele acaba dormindo no sofá. Ao acordar, se percebe em meio a algum tipo de comunidade construída naquela casa, um local de acolhida para “loucos”, e acaba por conhecer Tito Parisi. Sua primeira reação foi medo.

No decorrer da trama Lorenzo vai se envolvendo cada vez mais com os projetos de Salvatore, ao mesmo tempo em que sentia um grande medo, começa a compartilhar da causa. Chegam ambos na casa, logo o avisam que Agostino, estava no telhado pedindo cigarros, e Salvatore era o único que conseguia acalmá-lo. Mais tarde, é revelado que Agostino é filho de Salvatore, que o conheceu quando tinha 11 anos, possuindo problemas de saúde mental.    

Lorenzo conhece uma moça que toca piano, e depois de muita insistência dos outros, começa a coordenar os ensaios dela para que tocasse em um recital feito pela comunidade. Em seus diálogos relata, sutilmente, que sofria abusos de seu pai, ela era extremamente sexualizada, segundo o psicólogo, as emoções e sentimentos estavam confusos em sua “cabeça”, não sabe distingui-los, por isso, usava da sexualidade para afastar os outros.

Tito Parisié responsável por gravar as sessões de todos os sujeitos que moram na casa, a partir desses relatos, percebe-se a história de vida e da doença que os acompanharam até então, como foram suas experiências e os estigmas que sofreram, ou seja, permitem uma maior compreensão de como foram construídas suas subjetividades. Azevedo (1992) cita Hardt e Negri para os quais a subjetividade é produzida através da cooperação e da comunicação  e, por seu turno, esta subjetividade produzida produz ela própria,  novas  formas  de  cooperação  e  de  comunicação,  as  quais  por  sua  vez  produzem  de  novo  subjetividade,  e  assim  por  diante.  A possibilidade de se comunicar – como no recital ou nos vídeos – em seus anseios e medos, em suas alegrias e sonhos, tais como alguns dos sujeitos afirmavam querer sair de casa, ou os pais queriam que eles saíssem, outros viviam em outros tipos de comunidades e instituições, que os tratavam como mais um sujeito estigmatizado por seu diagnóstico, apreende-se a constituição subjetiva da história de cada um, isto é, ao elaborarem verbalmente suas histórias eles constroem-na no presente, eles se constituem ao passo em que se podem comunicar. Dessa forma, percebe-se que encontraram naquele lugar um novo território aonde poderiam estar construindo sua independência e individualidade. O momento dos relatos é extremamente marcante, faz compreender a real relevância das ações de Salvatore na vida daqueles sujeitos.

Essa importância da construção de novos territórios pode ser encontrada nas palavras de Mendes (1933, p.166) citado por Neto (2011)

Território não designa o espaço físico inerte, mas pode ser entendido como sendo “um espaço em permanente construção, produtos de uma dinâmica social onde se tensionam sujeitos sociais postos na arena política”, numa processualidade sempre inacabada e em mudança. (NETO, 2011, p.66).

O clímax do filme começa na cena que Agostino sobe novamente ao telhado e encontra-se agitado e violento, Salvatore sobe para acalmá-lo, mas ele se vira e bate com um bastão nele, fazendo com que caia no chão, aturdido pela queda começa a balbuciar pra Lorenzo um pedido de desculpas (por não ter voltado da Alemanha) para o filho, afirmando ser seu pai, Lorenzo sem saber o que fazer, responde que o compreendeu. O senhor Salvatore é levado ao hospital e todos ficam muito abalados.

Posteriormente, Tito Parisi mostra um vídeo marcante para o protagonista, com pacientes psiquiátricos sendo colocados em camisas de força, dos tempos que era jovem e tinha fé na “visão científica dos livros de psiquiatria”, tendo se iludido com tudo que vira, possivelmente o motivo por ter se juntado a causa da comunidade.

Esse diálogo entre Tito e Salvatore e o vídeo mostrado, comprovam a crítica que o diretor do filme faz a psiquiatria da época e as desumanas internações em hospitais psiquiátricos, relacionando ao movimento da Reforma Psiquiátrica italiano, cujo precursor foi Franco Basaglia, conforme Passos (2009)

Na Itália também temos um contexto de supremacia da psiquiatria pública, ao contrário do Brasil, onde sempre tivemos um forte segmento psiquiátrico privado, e fortemente financiado pelo Estado. A Psiquiatria Democrática Italiana – PDI – sempre teve como foco o embate político. Seu foco era o combate ao manicômio e pela revisão do estatuto jurídico do doente mental, por entender que esses dois aspectos estão intimamente relacionados. (PASSOS, 2009)

Lorenzo após experienciar tudo aquilo começa mudar sua perspectiva sobre a loucura e sobre o mundo, encarando a vida de maneira mais otimista, no que decide que não venderá mais a casa.

Os momentos mais divertidos que aqueles sujeitos em situação de vulnerabilidade vivem, são quando vão passear na praia, mudando de ambiente.

Ao final do filme, ocorre a apresentação do coral para um grande público, a atuação de todos é belíssima, sendo aplaudidos, também alguns dos moradores lêem um relato escrito de suas experiências, seus sentimentos e histórias de vida. Um pequeno trecho seria “O prazer de enfrentar o dia e suas pequenas dificuldades”, o que demonstra a importância de estar fazendo as coisas cotidianas que a sociedade da época, ao estabelecer um padrão de normalidade, estereotipando-os como dementes e inúteis, não abre espaço para que realizassem suas potencialidades ou para que satisfizessem seus pequenos prazeres. Em uma última apresentação a moça tocou, belamente, o piano.

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