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Resenha: Cem Anos de Solidão

Por:   •  25/3/2019  •  Resenha  •  881 Palavras (4 Páginas)  •  329 Visualizações

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Resenha: Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez

Meu primeiro contato com obras de gênero similar ao do realismo mágico foi durante a adolescência. Muito me intrigava o fato de que, no meio da narrativa de fatos que até então eu tomava como verossímeis, de súbito acontecia algum evento extraordinário, inexplicável perante a realidade humana, e que por mim era tomado como pura e simples invenção, quase que uma trapaça por parte do autor. “Por que diabos estragar uma história que poderia ser verdadeira com esses acontecimentos sem sentido?”, me perguntava. Demorei bastante tempo para me ambientar com esse tipo de literatura, de início apenas procurando aceitar que alguns autores optavam por distorcer a realidade sem um propósito claro, mas com o tempo percebendo a sutileza com que a magia servia como metáfora ou eufemismo para diversos acontecimentos mundanos. Felizmente, ao ler Cem Anos de Solidão, essa fase do desconforto já havia sido superada e pude me envolver com entusiasmo na fantástica história de Macondo.

Indo além de uma mera ficção, a obra é um interessante relato histórico da realidade colombiana entre os séculos XIX e XX. Ao misturar episódios de uma fantasia leve e cheia de significados, como a ascensão da emblemática Remédios aos céus, com toques de uma realidade nua e crua, como o envolvimento do coronel Aureliano com o partido liberal e sua participação na Guerra dos Mil Dias (com a qual tive o primeiro contato graças ao livro), García Márquez consegue nos faz viajar por cem anos de história de maneira breve, através das desventuras cíclicas dos Buendía e suas relações com o mundo real. Episódios como a chegada dos gringos interessados no plantio de bananas servem como um belo exemplo de uma situação criada pelo autor que reflete eventos reais associados à época, através da invasão de companhias estrangeiras que exploraram livremente as riquezas naturais latino-americanas e a mão-de-obra local (como foi o caso da famosa United Fruit Company, no início do século passado) e do surgimento de movimentos sindicais organizados frente à ambição inescrupulosa dessas grandes corporações.

Evitarei me adentrar na tentativa de elaboração de uma análise das personagens de diferentes gerações dos Buendía, pois estas além de serem extremamente numerosas, são dotadas de uma densidade ímpar. Fiquei fascinado (e, admito, por muitas vezes confuso) com o modo como, individualmente, todas as personagens da família (sem mencionar seus amigos, vizinhos, amantes e desafetos) são desenvolvidas de maneira tão natural, apresentadas sem grandes cerimônias, quase como se fossem dotadas de vida própria. Com certa frequência me perdia em meio a tantos Aurelianos, Josés e Arcádios, mas uma leitura mais atenta imputava a cada um deles características que os tornavam únicos, mesmo com seu compartilhado destino à solidão. O mesmo pode ser dito das mulheres da família, cada qual com suas particularidades e personalidades indecifráveis.

Quanto às possíveis críticas a serem feitas, acredito que seja inevitável não notar a presença de uma certa postura machista no modo como algumas relações são desenvolvidas e, principalmente, como algumas personagens femininas são apresentadas, especialmente aquelas que detém o status de concubinas. Entretanto, julgar sumariamente o autor por tais pecados seria incorrer

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