TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

A Psicogênese da língua escrita

Por:   •  24/4/2015  •  Relatório de pesquisa  •  1.602 Palavras (7 Páginas)  •  316 Visualizações

Página 1 de 7

A PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA

“(...) as mudanças necessárias para enfrentar sobre bases novas a alfabetização inicial não se resolvem com um novo método de ensino, nem com novos testes de prontidão nem com materiais didáticos. É preciso mudar os pontos por onde nós fazemos passar o eixo central das nossas discussões. Temos uma imagem empobrecida da língua escrita: é preciso reintroduzir, quando consideramos a alfabetização, a escrita como sistema de reprodução da linguagem. Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa, que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu.” (FERREIRO, 2000)

Nas sociedades letradas, as crianças estão sempre em contato com a linguagem escrita, diversificada no ambiente: revistas, bilhetes, jornais, outdoors, nomes de ruas, placas, etc. Esse contato permite descobrir o aspecto funcional da comunicação escrita, instigando para a curiosidade e reflexão. Elas fazem perguntas, deduções e vão aprendendo o significado da escrita.

Sabe-se que para aprender a ler e a escrever, ela terá de lidar com dois processos paralelos: as características do sistema de escrita e uso funcional da linguagem. Um aprendiz elabora esses conhecimentos, passando por diferentes hipóteses provisórias até se apropriar de toda a complexidade do sistema. Essas hipóteses dependem do grau de letramento do ambiente social e das vivências sociais de leitura e escrita que pode ser presenciado numa comunidade.

O processo de construção da escrita

NÍVEL PRÉ-SILÁBICO

Hipótese central

  • Escrever é produzir os traços típicos da escrita que a criança identifica como a forma básica da escrita.

Fase gráfica primitiva

  • A criança registra símbolos e pseudoletras, misturadas com letras e números.

  • Já demonstra linearidade e utiliza o que conhece do meio para escrever (bolinhas, riscos, pedaços de letras).

Fase gráfica primitiva

  • Nesta fase, a criança começa a diferenciar letras de números, desenhos ou símbolos e reconhece o papel das letras na escrita.

  • Percebe que as letras servem para escrever, mas não sabe como isso ocorre.

Algumas condutas típicas

  • Escrita com desenho, escrita figurativa.

  • A criança usa, para escrever, qualquer letra, em qualquer ordem.
  • Presença de letras e números. Escreve sinais gráficos quaisquer de forma aleatória.
  • A palavra escrita pode mudar de significado, dependendo da ocasião, porque está relacionada ao seu desejo.

  • Escritas convencionais, mas sem controle de quantidade: sucessão de grafias só interrompidas pelo limite da folha. Uma página inteira de sinais gráficos pode ser um nome.
  • Para ser legível, a palavra tem de apresentar letras variadas.
  • Não acredita que letras e sílabas podem ser repetidas em uma palavra.
  • Tentativas de correspondências entre o tamanho do objeto e a escrita.
  • Idéia de que a letra e a escrita só são possíveis se houver muitas letras (sempre mais de três ou quatro) e letras variadas.
  • Letras podem estar associadas a palavras inteiras – ideia global da palavra.
  • Ausência de vinculação pronúncia e escrita.
  • Não há discriminação de unidades lingüísticas.
  • A leitura é sempre global: correspondência do todo sonoro com o todo gráfico.
  • A criança pensa que, quando alguém lê, lê as figuras.

Intervenções didáticas

  • Estar imersa em um ambiente rico em materiais (tanto na variedade dos suportes gráficos quanto na diversidade dos gêneros dos textos), sendo espectadora e interlocutora de atos de leitura e escrita.

  • Trabalhar aspectos semânticos (discurso oral X texto escrito; imagem escrita; suportes de texto) e aspectos gráficos (letras e palavras; distribuição espacial) dos textos.
  • Inserir o educando no contexto de textos significativos/palavras/letras, fazendo-o perceber que se escreve e lê com letras.
  • Ouvir, contar e escrever histórias.
  • Memorizar globalmente as palavras significativas (seu nome, nome dos colegas, educadora(s), pais, etc.).
  • Analisar a constituição das palavras quanto à letra inicial, final, quantidade de letras, letras que se repetem, letras que podem ou não iniciar palavras, letras que podem ocupar outras posições nas palavras.
  • Introduzir os aspectos sonoros por meio das iniciais de palavras significativas.
  • É uma etapa em que o educando necessita ouvir muita leitura feita pelo educador e necessita vê-lo escrever bastante.

Vale ressaltar que não é a repetição que produz a aprendizagem, é o estabelecimento de múltiplas relações.

NÍVEL SILÁBICO

Hipótese central

  • Tentativa de dar um valor sonoro a cada uma das letras que compõem a escrita.

Algumas condutas típicas

  • Correspondência quantitativa entre a segmentação oral e os sinais gráficos, ou seja, para cada sílaba de uma palavra ela usa uma letra com ou sem valor sonoro convencional.

  • Ao escreverem palavras isoladas, usam uma letra para cada sílaba sonora e, nas frases, uma letra para cada palavra.
  • Aceitam, com certa hesitação, escrever palavras com duas letras. Porém, depois de escreverem a palavra, colocam mais letras.
  • Na leitura, a criança tenta passar de correspondência global para a correspondência a termo, isto é, do todo para as partes da expressão oral.

  • A criança, pela primeira vez, trabalha a hipótese de que a escrita representa os sons da fala. Mas, não se atenta necessariamente ao som das letras.
  • As formas fixas e aprendidas do meio geram novos conflitos quando a criança propõe a leitura destas em forma de hipótese silábica. O mesmo acontece com relação à leitura do nome (forma fixa recebida do meio).
  • Começa a esboçar certa ordem das letras, mas não com rigor do alfabético.

Intervenções didáticas

  • Uso preferencial de textos cujo conteúdo já está memorizado de antemão para leitura (letras de músicas conhecidas, quadrinhas, parlendas).

  • Pesquisa de qualquer palavra no texto, incluindo verbos e partículas pequenas, como artigos, preposições, etc.
  • Ao trabalhar palavras, dar ênfase sobre a análise da primeira sílaba. Contraste entre palavras memorizadas globalmente e a hipótese silábica: contagem do número de letras, desmembramento oral de sílabas e hipóteses de repartição de palavras escritas.
  • Reconhecimento do som das letras pela análise da primeira sílaba das palavras.
  • Prosseguimento do estudo das formas e da posição das letras em seus dois tipos: cursiva e maiúscula de imprensa.
  • O educador deve abrir espaço para a escrita silábica dos educandos neste nível, sem identificá-las como erradas, mas criando situações em que o questionamento de suas produções venha a se impor logicamente para eles.
  • Realizar ditados de palavras.
  • Escolha de palavras de um contexto vivido pelas crianças.
  • Ausência de correção, usando critério alfabético.
  • Análise do nome e memorização de certas palavras.
  • Ditado de palavras cujas grafias “silábicas” se equivalem.
  • Uso de muitos alfabetos de tamanhos e materiais diferentes.
  • Letras soltas para montar palavras.
  • Bingo de iniciais.
  • Contato e leitura de diferentes tipos de textos.

NÍVEL SILÁBICO-ALFABÉTICO

Hipótese central

  • Coexistência de duas formas de corresponder sons e grafias: fonemas para algumas partes das palavras e sílabas para outras.

Algumas condutas típicas

  • Momento de conflito.

  • A criança abandona a hipótese silábica e descobre a necessidade de fazer uma análise que vá mais além da sílaba.
  • As escritas aparecem com características de omissões de letras pela coexistência das hipóteses alfabética e silábica.
  • A letra que inicia cada escrita não é fixa e nem aleatória: é uma das letras que correspondem ao valor sonoro da primeira sílaba da palavra.
  • Surgem perguntas e pedidos de ajuda em ralação a qual fonema ou sílaba usar.

É comum que, ao entrar em conflito, a criança perca a segurança e, muitas vezes pareça regredir a condutas do nível anterior. Porém, para superar a hipótese silábica, a criança precisa negá-la; negando, ainda não tem outra para substituí-la; portanto, ela retorna às situações de conflito. No momento da superação da hipótese, é necessário conhecer o valor sonoro convencional da letra, pois se isto não acontecer, ela não avança adequadamente na construção do processo, tanto da leitura como da escrita.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (11 Kb)   pdf (123.1 Kb)   docx (18.1 Kb)  
Continuar por mais 6 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com