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Resenha: BOURDIEU, Pierre. “Os três estados do capital cultural”.

Por:   •  27/5/2015  •  Resenha  •  1.233 Palavras (5 Páginas)  •  1.618 Visualizações

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Universidade Federal de São Carlos

(Ufscar)

Educação e Sociedade

BOURDIEU, Pierre. “Os três estados do capital cultural”. In: Escritos de Educação. NOGUEIRA, Maria Alice; CATANI, Afrânio (org). 9.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

Sara Camelucci Carrocine                                                   RA: 499781

Capital cultural são todos os instrumentos que compõem a história de certa cultura. Isso envolve o modo de viver, os hábitos adquiridos, a língua, os bens simbólicos, etc.

 Bourdieu diz que o capital cultural se impõe como “uma hipótese indispensável para dar conta da desigualdade de desempenho escolar de crianças provenientes das diferentes classes sociais”. É evidente como fica mais fácil justificar o “sucesso escolar” dos alunos com sua “força de vontade” e sua dedicação, e assim, esquecer de todo o papel que deveria ser exercido pelo governo, burguesia e própria sociedade (como um todo) para minimizar essa desigualdade social, que por sua vez provoca tamanha diferença de acumulação de capital cultural. É essa desigualdade social que faz muitos alunos irem para a escola sem comer, faz com que as crianças desde cedo precisem abdicar dos estudos em função de um trabalho (muitas vezes irrisório, devido a pouca escolaridade) para ajudar a sustentar sua família, e que não garante a permanência desses alunos na escola. O conhecimento da língua culta, por exemplo, é um tipo de capital cultural que facilita no entendimento de certos assuntos escolares. Sendo assim, a distribuição do capital cultural é o que, de fato, influencia nos benefícios específicos que algumas crianças têm no mercado escolar, e não as suas aptidões naturais. Com isso, vemos que esse “sucesso escolar” vai muito além de mera dedicação, empenho e merecimento.

O autor enfatiza um caso muito comum, onde um economista, querendo o melhor para seu filho, investe grande capital econômico para inseri-lo no melhor colégio o mais cedo possível. No entanto, o adulto deixa escapar o investimento mais determinante e oculto de todos, que é a transmissão doméstica do capital cultural. A transmissão do conhecimento que é passada hereditariamente é de suma importância para o desenvolvimento escolar da criança, e leva certo tempo. Portanto, para que o jovem desenvolva seus “dons” e suas “aptidões” é preciso que a família invista previamente em capital cultural. Concordo parcialmente com o ponto de vista do autor. Claro que a transmissão de capital cultural através do meio familiar é de fundamental importância, mas também não podemos excluir essa função do sistema escolar, e dizer que apenas a primeira é um fator determinante. Acredito que ambos, escola e família, devem agir concomitantemente na formação dessa criança/jovem. Porém, voltando no que já foi supracitado, muitas vezes a criança que vem de uma família de classe econômica inferior não possuiu essa transmissão de capital cultural do meio familiar e também não recebe o devido apoio (financeiro, psicológico e pessoal) para permanecer na escola e adquiri-lo. Ou mesmo que permaneça, não conseguirá o objetivo desejado, pois pelo fato de o sistema escolar tratar todos os alunos como se fosse um só (esquecendo que cada um carrega consigo suas particularidades), não proporciona condições de que essa criança (com os saberes e vivência que adquiriu) acompanhe aquelas que provêm de uma classe superior (cuja família concedeu capital cultural).

Segundo Bourdieu, esse capital cultural pode existir de três formas: no estado incorporado, no estado objetivado, e no estado institucionalizado.

O estado incorporado refere-se à situação na qual o capital cultural torna-se parte da pessoa, pressupondo um trabalho de inculcação e de assimilação, como por exemplo, o domínio da língua culta, ou as informações escolares. Isso constitui uma herança familiar em relação aos conceitos, noções e hábitos adquiridos, que levam tempo para serem transmitidos, e influenciam no processo de aprendizagem dos conteúdos escolares. Dessa maneira, existe uma ligação entre família e escola (como já foi falado acima). Estes bens que são passados hereditariamente não podem ser transmitidos instantaneamente, nem podem ser adquiridos por meios econômicos ou por doação. Assim, o capital cultural a ser transmitido para a criança depende do tempo que a família dispõe para isso, e de seu capital econômico, pois como uma família pobre terá condições de esbanjar parte do seu tempo transmitindo capital cultural para seus filhos, se eles gastam cada segundo que possuem trabalhando arduamente para proporcionar o mínimo necessário a sobrevivência dos filhos? E, como cita o próprio autor, “nem todos os agentes têm meios econômicos e culturais para prolongar os estudos dos filhos além do mínimo necessário à reprodução da força de trabalho menos valorizada em um dado momento histórico”. Ou seja, esses agentes citados não possuem condições financeiras e nem culturais para ficar incentivando os filhos a estudarem, a lerem livros ou contemplarem obras de arte, até mesmo porque os pobres não possuem condições de ir a museus ou teatros e nem de comprar livros. E também, não possuem uma perspectiva de estudo, uma vez que o ensino médio no Brasil não é profissionalizante (não o inserirá em um bom cargo no mercado de trabalho) e eles também não terão chances de ingressar em um ensino superior.

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