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A Psicologia do Desenvolvimento da Adolescência à Velhice

Por:   •  29/11/2022  •  Trabalho acadêmico  •  2.417 Palavras (10 Páginas)  •  56 Visualizações

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Disciplina: Psicologia do Desenvolvimento da Adolescência à Velhice

Professor: Rafael

Dissentes: Adailton Luduvico da Silva

      Ailton Volpato Rodrigues

      Marcelo Martins

Como a Psicanálise compreende a noção de adolescência?

1. A adolescência como “tormenta”

A compreensão da adolescência, no que diz respeito à perspectiva psicanalítica, provoca em seu bojo de entendimento paradoxos com a leitura clássica do desenvolvimento, a saber, a partir da maturação biológica ou dos critérios que tangem à dimensão da afetividade, como adverte Serge Cottet em sua reflexão intitulada “Estrutura e Romance Familiar na Adolescência”.

Ao considerar como ponto pacífico a compreensão de que adolescência se caracteriza como um momento de ruptura entre a infância e a vida adulta, a psicanálise lança luzes e provocações acerca do modo como compreender tal ruptura, já que a mesma não se encontra no imaginário de um “aurora bucólica da vida”, como bem inicia Sonia Alberti na apresentação do livro Adolescência: o Despertar.  O despertar desta primavera, parafraseando Widekind (despertar de um mal-estar, vale ressaltar) está marcado por encontros e desencontros, significações e ressignificações que desencadeiam crises na idealização de si e na busca pela desalienação do Outro (tão marcante na infância). José Outeiral elenca alguns aspectos que caracterizam ou ao menos se aproximam do fenômeno da adolescência que nos permitem aprofundar a questão:

1) a perda do corpo infantil, dos pais da infância e da identidade infantil; (2) da passagem do mundo endogâmico ao universo exogâmico; (3) da construção de novas identificações assim como das imprescendíveis desidentificações; (4) da resignificação das "narrativas" de self; (5) da reelaboração do narcisismo; (6) da reorganização de novas estruturas e estados de mente; (7) da aquisição de novos níveis operacionais de pensamento (do concreto ao abstrato); (8) da apropriação do novo corpo; (9) do recrudescimento das fantasias edípicas; (10) da vivência de uma nova etapa do processo de separação-individuação; (11) da construção de novos vínculos com os pais, caracterizados por menor dependência e idealização; (12) da primazia da zona erótica genital; (13) da busca de um objeto amoroso; (14) da definição da escolha profissional; (15) do predomínio do ideal de ego sobre o ego ideal... (OUTEIRAL, José. O spleen na adolescência. In Proceedings of the 1th Simpósio Internacional do Adolescente, 2005, São Paulo (SP, Brazil) [online]. 2005)

 Neste despertar do sujeito aos encontros e desencontros há uma narrativa simbólica que o permeia, sendo causa de sofrimento a partir de três dimensões fontais: o corpo, o mundo exterior, as relações com o outro, abarcadas pela teia complexa da sexualidade. É nesse sentido que podemos compreender a definição de Serge Cottet acerca da puberdade como sendo uma “tormenta”. No processo histórico, a adolescência foi compreendida como momento crítico (COTTET, 1996, p.9), cuja posição dos meios reguladores (“educativos”) deveria exercer o papel de controle, evitando danos nesta fase de tormenta. A título de ilustração literária, o escritor austríaco Robert Musil em sua obra O Jovem Törless aborda a complexa relação entre a fase da adolescência e a convenção reguladora de uma sociedade em devir, onde as falhas dos padrões normativos são abarcadas por métodos educativos coercitivos, na lógica do vigiar e punir, como bem diagnosticou Michel Foucault. O Jovem Törless, em conflito íntimo entre seu desenvolvimento e individuação, encontra dificuldade e sofre para conformar-se às contraditórias exigências das normas sociais, sobretudo de uma sociedade em vias de ruína.

Para Freud, a puberdade não deve ser reduzida à sua dimensão orgânica e biológica, apenas como uma maturação do corpo; ela também se caracteriza como sendo um mito, a saber: da conjunção de todas as pulsões parciais em torno da genitalidade sobre um novo objeto após a fase de latência e, portanto, para além do recalcamento.” (COTTET, 1996, p.12). Podemos compreender esse movimento como uma segunda volta edípica, mas com ampliações na estrutura desejante, que evidencia a contradição de base e, por sua vez, a angústia: quem escolho como objeto de amor ou como polo identificatório? Nesse sentido, a psicanálise compreende a fase púbere que caracteriza a adolescência como uma “recapitulação de todas as antigas pulsões sobre um objeto novo, que não pode, mas herda a proibição.” (COTTET, 1996, p.13).

Portanto o conceito clássico do desenvolvimento, amparado por uma ordem diacrônica, estabelecido por uma evolução gradativa com início e fim assentado em o pressuposto de assimilação e acomodação que tem como resultado final uma sequência lógica e etária, em psicanálise essa apreciação ocorre uma desconexão.

Devido ao fato que entendimento psicanalítico se distancia dessa conjectura diacrônica, e compreende a adolescência como uma segunda volta após um período de latência constituído pelos diques de contenção, da lei simbólica, a censura, entre outros, e assim surge esse sujeito fazendo a reatualização do ver, do elaborar e decidir, assim para a psicanálise é impossível falar de adolescência sem falar da infância, por que um fato nunca é um fato bruto, mas sempre retornado a historicidade vivida.

Destarte a noção psicanalítica da adolescência deixa fora as categorias de faixa etária e uma ordem diacrônica.

2. A adolescência como “segunda volta e re-significação edípica”

Como dito acima, a psicanálise compreende a adolescência como uma recapitulação de todas as pulsões anteriores, da fase da infância às voltas com seu desenvolvimento psicossexual e, bem pontualmente, com as questões do Édipo. Assim a importância de revermos o complexo de Édipo, segundo sua elaboração por Freud, bem como darmos atenção aos acréscimos trazidos por Lacan, dá-se por alguns motivos: a) antes de mais nada, porque foi Freud quem o descobriu e Lacan deu um grande avanço ao introduzir as categorias do imaginário, simbólico e real; b) porque o Édipo deu subsídios para Freud construir uma teoria da sexualidade infantil que permite uma compreensão do psiquismo tomando como base o inconsciente. Lacan (1999, p. 161) observa que “o que o inconsciente revela, no princípio, é, acima de tudo, o complexo de Édipo”. Para efeito de nossa compreensão, o principal motivo de acompanharmos a evolução teórica do complexo de Édipo é sua implicação nas questões da adolescência, pois muitas questões do Édipo são “retornadas e re-significadas” no período de puberdade que compreende, justamente, a adolescência, por exemplo: a diferenciação que deve ocorrer no período do Édipo, a saber que a criança não é “um todo” com sua mãe, e que aquele que faz a função paterna “ajuda” a acriança na percepção disso, essa percepção de “separação” da mãe e consciência de que agora o sujeito adolescente deve buscar “sua/seu companheira/companheiro” retorna com característica mais acentuada e marcante: essa é uma das “tormentas” com que o adolescente lida, isto é, o ser para um outro no sentido afetivo e sexual, o ter uma/companheiro que “resgate” aquela união que tinha antes da quebra do Édipo com sua mãe.    

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