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Resenha do artigo “Reflexões sobre o pesquisar em psicologia como processo de criação ético, estético e político” - Autores: Andréa Vieira Zanella, Almir Pedro Sais

Por:   •  6/8/2022  •  Resenha  •  1.851 Palavras (8 Páginas)  •  96 Visualizações

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Acadêmico: Fabiano Behn Silva
Disciplina: Ética

Resenha do artigo “Reflexões sobre o pesquisar em psicologia como processo de criação ético, estético e político

Autores: Andréa Vieira Zanella, Almir Pedro Sais

Os autores Andréa Vieira Zanella e Almir Pedro Sais buscam através deste artigo apresentar algumas reflexões sobre o pesquisar para alicerçar a tese de que se trata de um processo de criação que se caracteriza como ético, estético e político. São apresentados alguns debates sobre o processo de produção de novos conhecimentos que mobilizam pesquisadores de diferentes áreas, debates que balizam os embates e tensões entre diferentes enfoques metodológicos em psicologia. Destes debates são identificados fundamentos do pesquisar que podem ser reconhecidos como comuns às diferentes tendências metodológicas, o que se apresenta como condição para que algum diálogo possa vir a ser criado em torno da tese exposta neste artigo.

Segundo artigo, os cursos de Graduação em Psicologia e os Programas de Pós-Graduação também contribuem para incrementar a produção científica na área, nos que têm ênfase na dimensão de pesquisador na formação profissional. Essa formação acontece em espaços formais, como as disciplinas de métodos e procedimentos de pesquisa, mas também em outros espaços onde é investido possibilidades de leitura crítica da realidade. Este texto propõe contribuir, através de reflexões teórico-metodológicas do enfoque histórico-cultural em psicologia, com esse debate. Os autores levantam uma questão em relação a ciência, sobre o pesquisar no campo da Psicologia, que diz respeito a possíveis especificidades de uma prática social em um determinado campo disciplinar, perguntam se há especificidades no processo de produção de conhecimentos em Psicologia que diferencia as pesquisas desenvolvidas das realizadas em outros campos disciplinares? Pergunta esta, que busca uma reflexão sobre possíveis especificidades intradisciplinares, levando a uma outra pergunta: diferenciam-se as pesquisas psicológicas em contexto de intervenção, na docência ou na esfera acadêmica? Perguntas que são consideradas dispositivos para a reflexão apresentada neste texto, levando a um debate maior: o processo de produção de conhecimentos, independentemente dos seus fins, é sempre e necessariamente marcado pelas tensões e os jogos de poder que caracterizam as relações em diferentes contextos sociais e que caracterizam a realidade como essencialmente plural e complexa. Sujeitos e(em) realidade são, na perspectiva do enfoque histórico-cultural em psicologia adotado neste trabalho, constantemente constituídos, sendo tudo, todos e cada um, expressão e fundamento de condições essencialmente históricas, marcadas pelas (im)possibilidades de cada tempo e lugar.

Os autores trazem que o não reconhecimento dessa pluralidade complexa, caracterizam uma história da civilização ocidental, marcada por fundamentalismos e exercícios de intolerância. Há décadas na ciência ocorre debate sobre o processo de produção de conhecimentos, marcado também pelos mesmos dogmatismos e intolerâncias, demarcando limites por vezes intransponíveis entre diferentes campos de saber, geralmente objetivados na separação entre ciências da natureza, num lado, e ciências humanas e sociais, no outro. Ainda discutida 20 anos depois por muitos autores.

Além das discussões epistemológicas, demarcadas por diferentes modos de se conceber possibilidades de produção de conhecimento e sua generalização, as polêmicas eram caracterizadas por intolerâncias e práticas de exclusão, por um lado, os preceitos iluministas que fundamentavam as ciências modernas, por outro lado, critérios de verdade opostos que negavam definitivamente esses mesmos preceitos. Numa ou outra perspectiva, o critério de realidade como verdade era assumido como fundamento. Essas diferenças apresentaram-se claramente no interior das ciências humanas e sociais, distinguindo territórios e excludentes em relação ao modo como se concebia o processo de produção de conhecimentos. Através de debates apresentava-se o embate sobre o que se legitimava como conhecimento científico, luta em que se procurou impor um determinado modo de fazer ciência com argumentos de objetividade, neutralidade e generalidade. Um dos objetivos desse embate foi a suposto diferença entre pesquisas quantitativas e qualitativas, as primeiras privilegiadas nas pesquisas das ciências naturais, e as pesquisas qualitativas reconhecidas como pertinentes ao campo das ciências humanas e sociais. Estas também foram historicamente marcadas pela territorialização em razão de muitas de suas práticas assumirem, sob o mesmo discurso de cientificidade, os preceitos metodológicos e epistemológicos das ciências da natureza.

Segundo o texto, toda homogeneização precisa ser problematizada, pois uniformizar diferenças que demarcam singularidades no processo de produção de conhecimentos, elimina a possibilidade de olhar criticamente o que se faz e diz, da mesma forma como são dificultadas as condições para conceber práticas criativas, necessárias à produção de respostas para os complexos problemas sociais que contemporaneamente se apresentam. A pesquisa acadêmica caracteriza-se, pois, pelo diálogo estabelecido com a realidade e com a própria ciência psicológica. De modo geral, a pesquisa em psicologia é assim delimitada na medida em que aquilo que se investiga é respectivo à ciência psicológica, aos seus focos de estudo: maiores especificações, por sua vez, implicam em riscos na medida em que não se caracteriza como ciência singular. Seus dilemas são os mesmos que afeta às ciências em geral, assim como sua história é marcada pelas relações de força e tensões características dos momentos históricos em que se insere.

Se há compromisso com a própria ciência e seu desenvolvimento, toda e qualquer pesquisa em psicologia, para além da diversidade epistemológica, responde a inquietações que marcam o status do processo de produção de conhecimentos, com suas implicações econômicas, sociais e políticas. Difícil pensar, nessa condição, em fundamentos que possam ser comuns às pesquisas e suas diferentes práticas. Esse exercício de identificação de consonâncias, porém, é importante, pois quando se nega a possibilidade de reconhecimento de afinidades, de pontos de referência em comum ainda que destes possam decorrer explicações variadas, talvez opostas, o diálogo é impossível, as trocas ficam extintas, negada. Que fundamentos podem ser esses que, ao mesmo tempo, reconheçam ou preservem as especificidades dos diferentes métodos de pesquisa em psicologia e viabilizem algum diálogo? Como reconhecê-los sem recair em discursos normatizadores, discursos esses que afirmam direções unívocas para o pesquisar e se traduzem em manuais onde a produção de conhecimentos é reduzida à sequência de passos a serem seguidos? Os autores buscam apresentar aqui algumas respostas para essas perguntas. Respostas provisórias, pois cada uma delas demanda uma complexa reflexão que se estende para além dos limites desse texto. Apresenta com a pretensão de contribuir para o diálogo sobre o pesquisar e como suporte para a defesa desse processo como criação ética, estética e política.

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