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Resenha de Artigo Científico

Por:   •  18/10/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.233 Palavras (5 Páginas)  •  189 Visualizações

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HISCHIER, Roland; SALIERI, Beatrice; PINI, Martina. Most important factors of variability and uncertainty in an LCA study of nanomaterials–findings from a case study with nano titanium dioxide. NanoImpact, v. 7, p.17-26, 2017.

O texto “Most important factors of variability and uncertainty in an LCA study of nanomaterials–findings from a case study with nano titanium dioxide” (NanoImpact, 2017, 7, p.17-26), de autoria do pesquisador Roland Hischier e colaboradores, aborda a temática dos fatores de variabilidades e de incertezas a que estão sujeitos os trabalhos de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) de nanomateriais manufaturados. O trabalho é fruto de uma aproximação entre Roland Hischier e Beatrice Salieri, do Laboratório Federal suíço para Ciência dos Materiais e Tecnologia, Lerchenfeldstrasse, Suíça, e Martina Pini, do Departamento de Ciência e Métodos de Engenharia da Universidade de Modena e Reggio Emilia, Reggio Emilia, Itália. Juntos, os autores somam mais de 60 artigos publicados em periódicos internacionais e constam com reconhecida expertise dentro dos eixos temáticos: avaliação do ciclo de vida de resíduos, aplicação de nanomaterias e desenvolvimento de novas tecnologias para produção de materiais nanoestruturados. No trabalho em questão, as argumentações dos autores são construídas em torno do estudo de caso do dióxido de titânio, um material com ampla aplicação, com uma crescente demanda de produção em escala nanométrica e que apresenta maturidade tecnológica. O trabalho busca trazer à discussão os aspectos de incerteza e de fatores que influenciam na variabilidade dos resultados obtidos pelos estudos de Avaliação de Ciclo de Vida. Aspectos como a falta de informação, a qualidade dos dados do inventário do ciclo de vida, a escolha da unidade funcional, a influência do método de cálculo e o correto delineamento dos objetivos/escopo são avaliados ao longo de mais de 200 cenários (modelos de ACVs gerados com base em um escopo/objetivo, um inventário e um método de cálculo). Ao longo do texto, os autores claramente identificaram que essas diferenças são fontes possíveis/prováveis de interpretações erradas na análise de desempenho ambiental comparativa entre nanomateriais e seus equivalentes convencionais. Também é ressaltado que ainda não existe um modelo de cálculo mais específico para mensurar o impacto das emissões de nanopartículas. Uma vez que o número de estudos de Avaliação do Ciclo de Vida de nanomateriais vêm aumentando, é de grande importância que se faça uma avaliação abrangente dos fatores que podem influenciar os resultados na fase de interpretação do ACV. Ao analisar criticamente o texto, concluímos que os autores fizeram uma escolha interessante do estudo de caso uma vez que, apesar de existir um número significativo de outras tecnologias, a produção e aplicação de nanodióxido de titânio já encontra-se em um estágio mais maduro a nível tecnológico e com a possibilidade de compilar inventários do ciclo de vida (ICV) mais completos e representativos, mesmo estando longe de haver uma base representativa e consensual de ICV local, regional ou mundial. No momento, ao que se pode observar, existe certa dificuldade de realizar estudos comparativos de ACVs que consigam estabelecer o argumento comparativo sobre uma base justa. Questões acerca de desempenho e equivalência dos produtos e/ou processos avaliados são questionados, com razão, pelos autores e colocam em dúvida a confiabilidade dos resultados divulgados acerca do desempenho ambiental da nanotecnologia. A variabilidade a que os resultados do ACV estão sujeitos pode resultar em estudos que sejam numericamente distintos, porém estatisticamente equivalentes. Como resultado, têm-se que nenhuma asserção acerca do desempenho ambiental do material diferente do “equivalente” mostrar-se-á como correta. Estudos de incertezas são ainda mais importantes em processos que não contam com inventários “médios” representativos de tecnologias ou regiões. Em geral, esses inventários contam com valores de menor qualidade, por vezes discutíveis, o que aumenta substancialmente a incerteza do método e reduz a sensibilidade do modelo de ACV. Outro problema que foi providencialmente ressaltado pelos autores é de que ainda não existe um modelo de cálculo representativo e consensual para mensurar o impacto das emissões de nanopartículas para o ar, terra e água, bem como avaliar seus efeitos quanto à ecotoxicidade e consequências da bioassimilação. Esse desenvolvimento ainda demandará algum tempo e deve acompanhar os avanços de áreas que avaliam a ecotoxicidade de nanoparticulados na biosfera. Entre tantos argumentos que foram ressaltados pelos autores, um em específico nos parece preocupante, pois atinge, no cerne, os cuidados que os especialistas de ACV deveriam atentar-se. Os autores identificaram que a delimitação das fronteiras do sistema estudado está entre os fatores que mais contribui para a variabilidade e incerteza dos estudos de ACV de nanomateriais. É curioso imaginar que, indo de encontro ao que a norma ISO 14040 claramente recomenda, muitos estudos de ACV de nanomateriais optam por estreitar as fronteiras do sistema estudado. Talvez seja resultado da falta de dados disponíveis, ou mesmo insegurança dos responsáveis por esses estudos em incluir no estudo dados que não lhes pareçam robustos. Essa atitude, apesar de parecer uma prática conservadora, pode resultar em ACV distorcidas e tendenciosas, que comparam processos sobre uma base que deixa de ser “justa” do ponto de vista de ACV. Ao passo que a norma orienta a inclusão de todas as etapas ditas fundamentais, com eventuais ampliações de fronteira e atualização de escopo/objetivos, os trabalhos observados pelos autores tenderam a reduzir a fronteira estudada, o que pode ter resultado na desarmonizarão do objetivo proposto e do escopo avaliado. Por fim, talvez a maior contribuição do artigo diga respeito à observação de que as incertezas e fatores de variabilidades serão tão menores quanto maior harmonia entre o objetivo proposto e o escopo avaliado. Com o correto ajuste das fronteiras do sistema e, por fim, passando pela escolha da unidade funcional que melhor represente a função do nanomaterial avaliado, é possível tornar mais robusta a interpretação de desempenho. Essas observações são muito importantes pois retomam alguns princípios que, por vezes, podem passar despercebidos. Na sua origem, a metodologia de ACV é interativa e passa por uma série de etapas de reavaliação de objetivo, escopo, inventário, avaliação e interpretação. As normas ISO 14040 e 14044 encontram-se como norteadoras desse processo e orientam que o estudo seja sempre tão abrangente quanto possível, enquanto as análises de incerteza, sensibilidade e fatores de variabilidade mostrarão, em um segundo momento, um panorama do tipo de problema que o estudo possa estar sofrendo e qual a significância dos resultados que estão sendo obtidos. Em conclusão, têm-se que o texto proposto por Roland Hischier e colaboradores fomenta um debate fundamental acerca da análise de desempenho de nanomateriais no contexto de produção, aplicação e disposição. No passado, debates similares sobre os cuidados com as questões ligadas à métrica e à normalização de escopo e objetivos foram fomentados para outras classes de materiais e tecnologias de maneira a harmonizar os estudos apresentados à comunidade interessada. Considerando que os nanomateriais são relativamente novos, essa mesma discussão faz parte do avanço natural do método de Avaliação do Ciclo de Vida, que deve encontrar-se em constante atualização a fim de manter-se representativa para a análise de desempenho ambiental de produtos e serviços. Por fim, faz-se recomendável a leitura desse texto interessante que muito tem a contribuir com a harmonização dos estudos de ACVs de nanomateriais em um futuro próximo.

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